Teste: Volkswagen T-Cross Comfortline 200 TSI




Na maioria das fabricantes, o SUV compacto é a estrela da casa. Basta ver o HR-V que tomou conta Honda, o Kicks na Nissan, até o Eco na finada Ford. A Fiat tá fazendo o maior estardalhaço com o “Progetto 363” que é o SUV do Argo, como se isso invalidasse o fato que esse carro deverão ter sido lançado há uns 3 anos.

Mas o T-Cross, coitado, não teve essa sorte. Chegou depois, em pouco tempo foi totalmente eclipsado pelo Nivus, esse sim uma estrela na linha VW pelo design arrebatador e proposta interessantíssima.

O desenho do T-Cross é exatamente o que se esperaria de um briefing “faça um SUV compacto” entregue na mão do time de designers. É facilmente identificado como um VW, remete à família Polo e Virtus com uma pitada de elementos exclusivos que lhe dão identidade, como a grade dianteira e as lanternas traseiras. Nada surpreendente, nada fora do lugar, típico VW.

Assim como no finado Up!, o T-Cross brasileiro é maior que o similar europeu, 8,8 cm no comprimento e 1 cm na altura, devido à necessidade de carregar a família toda e bagagem. O trabalho de “espichamento” foi muito bem feito e, lado a lado, é o europeu que parece pequeno demais.

Por dentro, o T-Cross sofre do mesmo mal que os VW atuais: um interior sem inspiração e com materiais pobres (melhora no Jetta e na Tiguan). A linguagem de retas e ângulos fortes ficou desgastada, os difusores de ar ficaram baixos, o local da central multimídia ficou mal resolvido. Mas tudo isso dá pra conviver. O que incomoda mesmo é a qualidade dos plásticos. A VW colocou plástico duro em tudo, absolutamente tudo, inclusive nos locais que o motorista encosta. A faixa decorativa do painel, que funciona como elemento de destaque, é de plástico. O tecido dos bancos é pasdrão carro popular dos anos 2000. Só salva o volante, de ótima empunhadura e forrado em couro macio. É muito triste pagar mais de CEM MIL reais e entrar num habitáculo desses.

Isso posto, é forçoso notar que a unidade avaliada tinha 16 mil kms, não era usada de forma pacífica, e mesmo assim não apresentava um ruído. Os plásticos são vagabundos, mas parecem ser bem encaixados.

A posição de dirigir é típica de SUV, com as pernas fazendo uma certa flexão para alcançar os pedais. No caso dos VW é até bom, dada a mania da fabricante em colocar os pedais perto demais. A ergonomia é impecável, os bancos têm ótimo apoio e conformidade, e o painel segue o padrão Wolfsburg de excelente visibilidade e detalhamento, ajudado pelo computador de bordo entre os mostradores (poderia ser colorido).

O espaço interno é assombroso. O banco traseiro comporta pessoas de 1,90m ou mais, com motorista igualmente alto. Realmente não parece tão grande por fora, mas por dentro é surpreendente. Maior que o próprio Jetta e muito sedã médio por aí. Os passageiros de trás contam ainda com saída de ar no console e porta USB. O porta-malas acabou sacrificado, com 373 litros ao colocar o banco traseiro totalmente para trás.

O recheio da versão Comfortline é adequado e competitivo. Conta com alarme antifurto, ar-condicionado digital monozona, assistente de saída em rampa, banco do passageiro dianteiro rebatível, banco traseiro com encosto bipartido, barras de teto, bloqueio eletrônico do diferencial, bolsas infláveis laterais nos bancos dianteiros e de cortina, cintos traseiros de 3 pontos (inclusive o central), computador de bordo, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis com temporizador, faróis de neblina com função de curvas, fixação Isofix para cadeira infantil, luzes de direção nos retrovisores, luzes de leitura dianteiras e traseiras, luzes diurnas e lanternas traseiras em leds, para-sóis com espelhos iluminados, retrovisores com ajuste elétrico e rebatíveis, rodas de alumínio de 17 pol, sensores de estacionamento traseiros e dianteiros, câmera de ré, comando de marcha no volante e volante com ajuste de altura e distância e comandos.

Até aí, um pacote interessante, mas sem grandes destaques em relação à concorrência. A cereja do bolo é mesmo o sistema de infotenimento, que a VW colocou em alto padrão. É fácil de usar, responsivo, bonito, tem entrada USB e SD, e a qualidade do som é boa. Está consideravelmente melhor que a concorrência.

O motor é o conhecido 1.0 TSI de 3 cilindros, 128 cv a 5.500 rpm e 20,4 m.kgf a 2.000 rpm. O casamento com a caixa Aisin de 6 marchas é perfeito, e o conversor de torque faz brilhantemente o papel de “cobrir” as rotações baixas em que o motor não rende tanto. Há alguma hesitação na resposta ao comandar aceleração abrupta, especialmente no modo Eco, porém rapidamente preenchida pelo conversor e depois pelo motor.

Na condução normal em cidade e estrada, o motor entrega ótimo desempenho, com acelerações e retomadas convincentes como se fosse um 1.8 aspirado, aliado a uma economia de combustível surpreendente – dá pra fazer coisas absurdas como 14 km/l com etanol na estrada. Onde falta é onde se esperava, em retomadas em alta velocidade, acima de 100 km/h. É um motor que “morre” cedo, e a extração de desempenho mais satisfatória se dá entre 2500 e 4000 rpm. Como falamos na avaliação do Corolla, se isso não é muito entusiasta, é muito mais útil na vida real do que levar o motor a 6 mil giros com toda a família no carro percebendo que você tá acelerando.

O câmbio é conhecido e muito bom, casamento perfeito com o motor e com opção de trocas de marcha na alavanca e em aletas no volante. O que não gostamos foram as opções da VW de indicar as marchas no topo da alavanca – preferimos isso sempre visível no console – e o fato de o programa esportivo usar o mesmo canal comum, D. As marchas são sempre indicadas no painel, que gostamos muito.

A central multimídia oferece três modos de condução: Eco, Normal e Sport, bem como um individual. O Eco faz o carro sair em segunda e trocar as marchas bem cedo. O Sport deixa o acelerador pouco mais arisco e retém mais as trocas. Como sempre falamos, esses modos de condução puramente eletrônicos agregam muito pouco ao guiar de qualquer carro.


Se por um lado o acabamento é o pior lado da nova família VW, o acerto de suspensão é a melhor surpresa. Deixamos de ter os carros duros como pedra e passamos a conviver com calibrações refinadas que conciliam o conforto tão necessário para rodar no piso esburacado com uma estabilidade e controle mais que suficientes para a proposta do carro. O T-Cross segue esta receita e se torna um dos SUVs compactos mais agradáveis de comportamento do mercado, inclusive com a altura correta de solo para que não precise se preocupar ao passar em valetas.

Tudo considerado, temos no T-Cross um válido competidor na categoria dos SUVs compactos, tendo como destaques o espaço interno, os equipamentos e o comportamento dinâmico. É uma disputa difícil entre vários concorrentes também muito capazes, no segmento mais aquecido do mercado. Mas talvez o principal calcanhar de aquiles esteja mesmo dentro de casa. Para quem não precisa de tanto espaço, o Nivus vem com um apelo de design difícil de bater.

Estilo 5 – Padrão VW sem grandes novidades. Achamos o corte da traseira um tanto abrupto.

Imagem – Bastante neutro. A prevalência em frotas de aluguel cobra o preço em status.

Acabamento 0 – Não dá mais pra tolerar esse tipo de plástico em qualquer carro, qualquer um, muito menos os mais caros e aspiracionais. Pega esses plásticos e enfia, Volkswagen.

Posição de dirigir 6 – Mais alta do que gostaríamos, mas faz parte da proposta SUV. Ajustes de profundidade (ausentes da OITAVA MARAVILHA DO MUNDO...) e altura auidam a encontrar boa posição.

Instrumentos 8 – Provavelmente o melhor painel analógico do mercado.

Itens de conveniência 8 – Embora não traga nenhum equipamento mais diferenciado, sem dúvida é bem equipado com tudo o que se espera da categoria.

Espaço interno 10 – É impressionante, seja na frente ou atrás, e também em altura. Somente a largura compromete, como era de se esperar.

Porta-malas 7 – Pode ser aumentado com ajustes no banco traseiro, e traz ainda o recurso de modular a altura.

Motor 8 – Ótima proposta de desempenho com economia. Não notamos vibrações incômodas oriundas de ser um 3 cilindros.

Desempenho 7 – Bastante ágil na estrada e principalmente na cidade. Não se nota “buracos” e nem ausência de mais performance.

Câmbio 9 – Este Aisin chegou a um ótimo estágio de funcionamento, robustez e adequação para uso com motores pequenos e turbinados. E pode ser comandado manualmente pela alavanca e por aletas, que muitas outras fabricantes preferem fingir que não existem.

Freios 10 – Discos atrás é até excessivo pelo padrão de desempenho. Ótima sensação de pedal.

Suspensão 9 – Embora de receita convencional com eixo de torção, a calibração está sensacional.

Estabilidade 8 – Todo SUV sofre aqui, mas a VW atingiu ótimo compromisso.

Segurança passiva 9 – Vem de série com seis airbags, o que é notável, além dos itens obrigatórios. E os projetos VW sempre têm boas notas no Latin Ncap.

Custo-benefício 8 – É uma escolha muito válida no segmento, consideravelmente mais barato que o HR-V e com desempenho muito superior a Kicks e Creta 1.6. A dúvida fica mesmo se não vale pegar um Nivus.

 


Comentários

Cachopacampos disse…
Por que nunca citam o Tracker como concorrente?

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