Teste: Audi A5 Sportback Ambiente 1.8 TFSI (2016)






“Na minha época as coisas duravam mais”. Muitas pessoas de uma certa idade têm essa sensação. Bons tempos aqueles em que geladeiras duravam trinta anos, fogões duravam vinte. Mesmo de carro se trocava pouco. Talvez a maior parte dos carros antigos que estão preservados até hoje é porque ficaram com o mesmo dono, ou poucos donos, por muitos anos – e tinha que ser assim, porque os carros eram ainda mais caros antigamente.

Só que diversos fatores mudaram essa realidade. Não cabe a este blog investigar, mas podemos citar a obsolescência programada, a busca por eficiência que leva a dispositivos com tolerâncias menores, feitos de materiais mais leves, e mesmo o consumismo – quem nunca comprou algo novo não porque o anterior havia deixado de cumprir sua função, mas por simplesmente ter enjoado?

A adoção de tecnologias cada vez mais avançadas tem levado a um envelhecimento precoce dos carros. O Fusca foi produzido por mais de 30 anos no Brasil com poucas alterações significativas: nunca teve ar condicionado ou direção hidráulica por exemplo. Em 1995 você podia comprar um Gol 1.0 que, em termos de tecnologia, não era tão diferente assim de um Gol de dez anos antes.

Hoje, um carro de poucos anos de uso já pode não contar com tecnologias importantes – e isso afeta especialmente os carros de luxo, pois quem possui 100 mil reais para comprar um Audi como o testado já pode comprar um carro zero com essas tecnologias. Será que ele está disposto a abrir mão disso para usufruir os outros atributos do Audi?

Algumas ausências são sentidas neste A5 2016. A mais relevante é a central multimídia sem conexão Apple Car Play ou Android Auto. Andar de Audi com o celular pendurado no painel é de lascar, mas se você quiser usar o Waze essa será a alternativa. Outras: Faróis de xenônio na frente que, embora bons, não são de LED. Porta-malas não possui acionamento elétrico. Não há câmera de ré ou sensores de estacionamento dianteiros. Não há memória para os bancos. O ar é digital monozona. As luzes internas são comuns, halógenas.
Alguns desses equipamentos, honestamente, deveriam equipar o A5 no lançamento – foi economia porca da Audi. Porém se tornaram tão comuns atualmente que é estranho considerar um carro dessa categoria que não os tem.

O argumento a favor do Audi é esse mesmo: categoria.

Começa pelo design: o A5 foi eleito o carro mais bonito da Europa em 2009. O atual é ainda mais bonito (achamos a frente do 2016 arredondada demais), porém isso não desmerece o belíssimo visual do A5 testado, especialmente na lateral. No material de imprensa, a Audi fala que o A5 oferece o melhor de três mundos: a esportividade de um cupê, o espaço de um sedã e o porta-malas de uma perua. Há um pouco de exagero, claro, mas no geral concordamos.

Dentro do carro a categoria é ainda mais expressiva. Audis têm os interiores de melhor acabamento deste lado de um Bentley, e o A5 sendo um modelo intermediário da marca não desaponta. Todas as superfícies são suaves ao toque, o porta-luvas e o porta-malas são revestidos de tecido macio, há forração nos porta-objetos, e esta versão possui bancos em couro legítimo. Além do status, atualmente a maior diferença entre a maioria dos VWs e dos Audis é mesmo o acabamento, pois o compartilhamento de motores, câmbios e plataformas tem deixado os carros de ambas marcas com uma pegada bastante parecida.


A lista de equipamentos inclui controle eletrônico de estabilidade e tração, seis bolsas infláveis (frontais, laterais dianteiras e cortinas), faróis de xenônio em ambos os fachos, faróis de neblina, rodas de 17 pol, ar-condicionado automático, ajuste elétrico do banco do motorista e do passageiro, controlador de velocidade, faróis e limpador de para-brisa automáticos, sensores de estacionamento na traseira, teto solar e sistema de áudio com Music Interface, toca-DVDs, navegador e sistema Connect. Tudo inutilizado com as novas conexões com celulares.

O espaço é excelente para motorista e passageiro, e apenas bom para as pernas de quem vai atrás: honestamente, com entre-eixos de 2,81m esperávamos mais. Porém, como imaginado, é crítico mesmo na cabeça: o limite máximo de altura para quem vai atrás é 1,80m; mais que isso precisa dobrar o pescoço. O porta-malas de 480 litros pode não impressionar pela capacidade, porém a tampa que abre junto com o vidro cria um vão enorme que possibilita acomodar a bagagem facilmente. Como é um Audi, as argolas de amarração de carga no porta-malas são cromadas.

Este A5 2016 recebeu o mesmo motor 1.8T que equipa o A3 nacional, o que deve aliviar o bolso ao precisar de peças e manutenção. No A5 ele gera 170 cv de 3.800 a 6.200 rpm, com 32,6 m.kgf de torque de 1.400 a 3.700 rpm. UAU, mais de 30 quilos de torque num motor 1.8...

O desempenho do A5 é excelente, se não exuberante, fazendo de 0 a 100 km/h 8,4s e máxima de 220 km/h. Como todo motor turbo downsizing, a potência é entregue em médias rotações e sem muito mais fôlego até o corte de giros. Em velocidades altas, o motorista poderia desejar mais potência. Já no uso urbano o motor satisfaz plenamente, mesmo considerando o elevado peso de 1.525 kg.

O que poderia melhorar é o câmbio. Este A5 é equipado com CVT, de certa forma uma aberração na linha Audi, que costuma usar mais câmbios epicíclicos ou de dupla embreagem. A sensação é de guiar um carro com um CVT de uma geração atrasada: existe uma demora perceptível entre o pedido de potência no acelerador e a efetiva entrega pelo motor, o que é bastante incômodo em um carro desta categoria. Ao trocar o motor 2.0 pelo 1.8, a Audi enfatizou veementemente o ganho de economia, e não seria surpresa imaginar que parte desse ganho tenha vindo de uma calibração do CVT com foco total em economia. Nesse ponto lembra bastante o Nissan Kicks: o câmbio busca o giro baixo imediatamente, e com isso todo ganho de potência ao ser solicitado não é imediato. Claro que no Audi, quando o motor “entra”, o carro dá um salto e aí passa a entregar uma performance digna, o que não acontece no Nissan.

Por outro lado, a suspensão surpreendeu positivamente, absorvendo bem irregularidades e pequenos solavancos, ao mesmo tempo em que traz estabilidade suficiente para desfrutar o desempenho do carro. A configuração é independente de braços sobrepostos na dianteira e multilink na traseira. Os freios são bons, porém gostaríamos de uma mordida mais forte do pedal no começo do curso. O silêncio a bordo é impressionante, a menos de 3 mil giros simplesmente não se ouve o motor.

Se a compra vale ou não a pena é uma questão muito pessoal. O A5 é um Audi com todas as letras, altamente refinado, agradável, bonito, realmente premium. Só que o Jetta parado ao lado tem painel digital, faróis em LED, piloto automático adaptativo e central multimídia completa com conexão a celulares Apple e Android.

Acreditamos que muito em breve, algumas dessas tecnologias poderão receber upgrades sem dificuldades. Uma atualização que renovasse a central multimídia do A5 seria muito interessante, e acreditamos que esta será uma das maneiras de reduzir a velocidade da obsolescência dos modelos com poucos anos de uso, especialmente na categoria premium.


Estilo 9 – Bonito, elegante, tem presença. Não leva 10 porque achamos a frente muito arredondada.

Imagem – Elegante, sóbrio, porém com uma pitada de esportividade a mais.

Acabamento 10 – Materiais macios, encaixes precisos, combinações de bom gosto.

Posição de dirigir 10 – Uma das maneiras de identificar um carro realmente premium é o curso de ajuste de profundidade do volante. Quanto maior, melhor o carro. O A5 permite achar uma posição perfeita.

Instrumentos 9 – Painel lindo, bem desenhado e de excelente visibilidade, com display central colorido.

Itens de conveniência 5 – Algumas coisas o A5 não tem por questões de avanço da tecnologia, mas outras foi economia desnecessária da Audi.

Espaço interno 7 – O formato limita a altura dos ocupantes traseiros.

Porta-malas 8 – Excelente abertura e acabamento. A capacidade é média.

Motor 10 – Econômico, silencioso, e torque absurdo.

Desempenho 8 – O peso elevado e o câmbio jogam contra, porém o motor é muito bom.

Câmbio 5 – Ponto negativo, principalmente pela lentidão nas respostas. Na condução normal, não se faz notar. O creeping é ok.

Freios 9 – Poderiam atuar com mais força mais cedo, porém são ótimos.

Suspensão 10 – Surpresa positiva pelo compromisso entre conforto e estabilidade.

Estabilidade 9 – A tração dianteira se faz notar, porém o limite é bem alto.

Segurança passiva 10 – Seis air bags, isofix, e a tranquilidade de ser um carro sólido.

Custo-benefício ? – Depende. Quem procure a fineza da engenharia alemã, estará bem servido. Quem prefere a vanguarda tecnológica, não.

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