Teste: Volkswagen Gol 1.6
Quando testamos o Fusca 1972, foi
necessário fazer uma reprogramação completa do modo de dirigir. Conduzir um
veículo de quase 50 anos de idade é muito, mas muito diferente dos carros
modernos com os quais estamos acostumados, recheados de opcionais, com câmbio
automático e motores potentes.
Para quem curte dirigir, no entanto,
essa viagem no tempo é uma delícia. A conexão homem-máquina é muito mais forte
do que a relação anestesiada que existe hoje em dia, com as direções elétricas
sem feedback, rodas desnecessariamente grandes, câmbio automático e motores que
mal se escutam. Claro que não queremos nada disso quando estamos parados no
congestionamento, mas em trânsito livre ou menos denso, apreciamos bastante
esse contato mais íntimo com o carro.
O teste desse Gol serviu para
tirarmos uma dúvida: será possível ter esse contato mais próximo com a máquina
sem precisar recorrer a um carro antigo e seus problemas de confiabilidade? Ou
ainda, sem precisar recorrer a um carro esportivo caro e fora do alcance da
maioria?
Embora fosse modelo 2019, o Gol
testado era uma viagem no tempo: volante de plástico sem ajuste, rádio sem tela
touch screen, ajuste manual dos retrovisores, plástico por todos os lados. Em termos
de conforto e dirigibilidade, difere muito pouco de um Gol quadrado e menos
ainda de um Gol bolinha, desde que equipados com direção hidráulica (pesada) e
ar-condicionado como nosso Gol.
E por isso mesmo ele foi muito bem
sucedido em nosso teste. Esse Gol permitiu uma conexão com a máquina e com o
ato de dirigir que não encontrávamos há muito tempo. A direção hidráulica é
pesada e te recorda do esforço efetuado pelas rodas. A embreagem lembra a
necessidade de adaptação ao ponto do curso do pedal onde acontece o acoplamento
das marchas, e o câmbio Volkswagen segue como uma referênciano mercado, de
curso curtíssimo, leve e preciso, um enorme prazer de manusear. Como o carro é
leve e pouco isolado,, é possível perceber o trabalho da suspensão tanto em pisos
irregulares quanto em atitudes mais esportivas, e também do sistema de freios.
Além disso, o veterano motor 1.6 empurra o carro com enorme facilidade,
permitindo manter giros baixos para a condução econômica na cidade, e
surpreendendo ao explorarmos as rotações mais altas – um carro com este peso e
potência seria considerado esportivo até pouco tempo atrás. Além disso, é
robusto até dizer chega: passa uma enorme sensação de solidez.
Deixando de lado a questão do prazer
em dirigir, o Gol segue sendo um competidor válido no segmento dos hatches
compactos. O design externo e principalmente interno mostra bastante o peso da
idade, sendo que a carroceria com curvas do Gol G5 original não combina com as
linhas retas usadas na dianteira e na traseira. O mesmo acontece com as curvas
dos painéis de porta e as retas do painel.
A posição de dirigir é agradável,
porém o fato de o volante não possuir regulagem incomoda, dado que como em todo
VW os pedais ficam muito próximos do banco. O espaço interno é o que se espera
da categoria, bom na frente porém apertado atrás para adultos tanto em largura
quanto em espaço para as pernas. O porta-malas leva 285 litros, bom valor, e
fácil acesso.
Os equipamentos de série são
escassos, posto que é uma versão voltada a frotistas. No entanto, o pacote
“Urban completo” de R$ 3.105 deixa o carro bem mais palatável ao acrescentar
chave canivete, sensor de estacionamento traseiro, 2 Luzes de leitura
dianteiras e 2 luzes de leitura traseiras, Alças de segurança no teto, Coluna
de direção com ajuste de altura e profundidade, Espelhos retrovisores e
maçanetas das portas na cor do veículo, Espelhos retrovisores externos
eletricamente ajustáveis com função tilt-down no lado do passageiro, Espelhos
retrovisores externos com luzes indicadoras de direção integradas, Faróis de
neblina, Lanternas traseiras escurecidas, Para-sol com espelho iluminado para
motorista e passageiro, Rodas de liga leve 15", Tampa do porta-malas com
abertura elétrica, Travamento elétrico das portas e vidros elétricos traseiros.
De série temos: ABS com EBD, 2
airbags (passageiro e motorista), Ar-condicionado, Banco do motorista com
ajuste de altura, Direção hidráulica, Lavador e limpador do vidro traseiro, suporte
para celular, travamento elétrico das portas e Vidros dianteiros elétricos. Note
que o som é opcional. Falamos que era uma viagem no tempo...
Empurrando os escassos 1.031 kg do
Gol está o veterano 1.6 8v flex de 104 cv a 5.250 rpm e 15,6 m.kgf a baixas
2.500 rpm. É uma unidade já aperfeiçoada ao longo dos anos e que chegou num
estágio muito bom de entrega de potência com economia. Seu comportamento é bem
pró-torque, incentivando trocas de marcha em giros baixos, o que casa bem com o
câmbio de marchas longas.
A suspensão não tem segredos, com
configuração McPherson e eixo de torção e calibração típica VW, portanto mais
rígida que o necessário. A absorção de impactos é muito boa, embora sentida na
cabine. O carro segue inalterado mesmo pelos pisos mais esburacados, como se
espera de um Gol.
O valor pedido pelo carro é de R$
52.760, que é um insulto se considerarmos os parcos equipamentos de série.
Embora o valor seja competitivo em relação a Onix, Ka e HB20, seria de se
esperar um preço mais camarada para um carro veterano. Como o foco aqui são
vendas a frotistas, o consumidor pessoa física encontrará condições mais
interessantes adquirindo um Up ou Fox.
No entanto, quem em sã consciência
compraria um Gol 1.6 para ser o carro de diversão no final de semana? Para o
dia a dia, especialmente em trânsito pesado, fará falta ter mais conforto:
isolamento acústico, bancos melhores, câmbio automático. Para o final de
semana, as prioridades são outras: pode ser um antigo, afinal não será usado
todos os dias; ou mesmo um usado mais apimentado, o que pode incluir o mesmo Gol
mas aí já cheio da maldade indo para as preparadoras. Assim, do jeito que sai
da fábrica, o Gol 1.6 só pode ter um destino. Frotas de empresas.
Estilo
3 – A frente não conversa com a lateral que não conversa com a traseira.
Imagem
– A serviço da VIVO
Acabamento
6 – Tudo de plástico rígido, porém no painel as texturas disfarçam um pouco.
Posição
de dirigir 5 – Fica difícil sem ajuste do volante e com um ajuste de altura
bizarro que despenca o assento.
Instrumentos
9 – Conta-giros e velocímetro de boa legibilidade, indicador de combustível e
temperatura digitais sem prejuízo, e até um indicador de marcha para economia!
Itens
de conveniência 2 – Quando “coluna central externa com aplique preto” faz parte
da lista de itens de série, se prepare que o carro é pelado
Espaço
interno 7 – Na média do segmento
Porta-malas
8 – Bom em tamanho e formato
Motor
7 – Chegou a um bom nível de potência e economia. Gostaríamos de um ronco mais
agradável.
Desempenho
9 – Anda muito graças ao baixo peso.
Câmbio
10 – Extremamente agradável, leve, preciso, curto, e de relações longas como
gostamos.
Freios
9 – Bastante adequados ao carro e seu desempenho.
Suspensão
8 – Mais firme do que gostamos, muito sólida.
Estabilidade
7 – Os pneus deixam um pouco a desejar, porém o carro é bem equilibrado.
Segurança
passiva 7 – Oferecer os air bags obrigatórios. Seria bom ter isofix.
Custo-benefício
2 – A que ponto chegamos, mais de R$ 50 mil num Gol pelado e está na média do
segmento.
Comentários
Abs
Leandro