TESTE: Volkswagen Tiguan Allspace Comfortline 250 TSI



   
Imagine que você vai abrir uma pizzaria, porém só pode oferecer dois sabores para os clientes. Quais você escolheria? Algo como mussarela e calabresa, que são as mais vendidas, certo? Pois é. Dada a mesma pergunta, a Volkswagen escolheria Abobrinha com Abacaxi e Berinjela com Rúcula.
É uma metáfora para tentar explicar as opções de produtos de uma fabricante que, nos segmentos de maior venda – compactos de entrada e SUVs –, oferece ou opções defasadas (Gol) ou nada. Porém, tem um carro maravilhoso disputando o segmento dos SUVs premium, como a Tiguan que testamos. Ou dos sedãs grandes (Passat).

Aí quebra as pernas do M4R. Porque a Volks está paulatinamente se tornando a fabricante que sempre defendemos aqui, uma com produtos bons em todos os segmentos e preços competitivos (poderiam ser bem mais competitivos, claro). Só que isso não se reflete na liderança de vendas, porque a Volks está fora dos dois segmentos de maior volume –
além, claro de uma presença menos expressiva nas vendas diretas, como carros de frota.

Quando resolve arregaçar as mangas e fazer um bom carro, a VW joga pesado. É o caso da Tiguan que testamos.

Já sabemos que a Tiguan traz somente o nome do SUV compacto que conhecemos anos atrás. Cresceu bastante, e a versão AllSpace, que é a mais longa e a que temos por aqui, rivaliza em tamanho com SUVs grandes (médios pelo padrão americano) como Equinox e Outlander. É o que entendemos por tamanho familiar: atende à maioria das famílias com uma certa folga, inclusive aquelas com filhos adolescentes. O espaço interno é excelente, quatro adultos viajam com conforto e mesmo o quinto não sofre tanto. Já o espaço na terceira fileira é muito pequeno, mas muito mesmo, especialmente para as pernas. Adultos não conseguem viajar ali nem se for pra ir até a esquina. São emergenciais para crianças somente. E o porta-malas com estes assentos rebatidos é cavernoso e de assoalho plano.

O desenho da Tiguan talvez seja seu ponto mais fraco, pois é o padrão Volkswagen sem grandes inspirações. É uma evolução com relação até pouco tempo atrás, em que todos eram muito parecidos – alguns ainda são –, porém fica devendo algum aspecto mais inovador que atraísse no desenho.

Esse conservadorismo rende pontos positivos no interior, pois resulta em ergonomia exemplar. É interessante notar como a Tiguan seguiu o padrão do Golf ao ter as saídas de ar acima do multimídia (que preferimos), ao contrário do Jetta, que usa o padrão do Polo. De certa forma, essa escolha dita o padrão de acabamento, que na Tiguan segue o nível muito alto do Golf. Plásticos emborrachados e de textura agradável estão por toda parte, bem como proteções de borracha nos porta-objetos. O volante tem a pega perfeita, textura do couro perfeita, realmente não dá pra entender quem opta por outro padrão.


A posição de dirigir é muito agradável, dentro do padrão VW que coloca os pedais mais próximos do que gostaríamos. Os bancos possuem regulagem elétrica com três memórias de posição, com ótima densidade de espuma, conformação e acabamento.

A lista de equipamentos é bem recheada, e inclui seis air bags, alarme volumétrico, aquecimento dos bancos dianteiros, ar-condicionado com três zonas de ajuste e difusor para a segunda fila de bancos, câmera traseira de manobras, capô sustentado por mola a gás, controlador de velocidade, controle elétrico de vidros com abertura e fechamento a distância, espelhos com aquecimento e rebatimento elétrico, faróis em LED e limpador de para-brisa automáticos, freio de estacionamento elétrico e retenção automática nas paradas, luz de cortesia sob os retrovisores externos, mesas atrás dos encostos dianteiros, para-sóis iluminados, porta-luvas refrigerado, quatro alças de teto, retrovisor interno fotocrômico, sensores de estacionamento à frente e atrás, teto solar de grandes dimensões e tomadas de 12 volts para segunda fila e no compartimento de bagagem. Pelo valor, gostaríamos de ver mais equipamentos na categoria de facilitar a condução, como aviso de ponto cego ou o piloto automático adaptativo. A ausência da chave com sensor de presença é sentida.


Ao começar a condução tínhamos dúvidas sobre o desempenho de um carro pesado (1.598 kg) aliado a um motor 1.4 turbo e câmbio automatizado de dupla embreagem. No trajeto, uma situação crítica para conjuntos desse tipo: uma subida íngreme precedida de uma valeta. Vencida a valeta, câmbio em D e segunda marcha, cerca de 20 km/h, afundamos o pé no acelerador. Inabalável, como se fosse uma locomotiva, a Tiguan despachou a subida como se não existisse. Sem trancos, sem escândalos.

A nosso ver, o segredo está na calibração do câmbio e do motor. O “buraco” causado por rotações baixíssimas e marchas altas, visando economia, foi minimizado. O DSG procura manter as rotações ao redor de 1,5 a 2 mil rpm, situação em que o motor já entrega o torque máximo (são 150 cv a 5 mil rpm e 25,5 m.kgf de 1.400 a 3.500 rpm). No M4R sempre criticamos essa falta de desempenho nos carros com a combinação motor turbo e câmbio de dupla embreagem, crítica no Golf porém sentida até mesmo no mais potente Jetta 2.0 TSI. Aparentemente a VW resolveu ou pelo menos diminuiu bastante o problema.

Com isso, dirigir a Tiguan é extremamente agradável. O desempenho é mais que suficiente na cidade, com fôlego para boas velocidades em estrada. O câmbio tem a precisão nas trocas típicas do DSG, muito rápidas, aproveitando o amplo torque do motor turbo. As marchas podem ser trocadas manualmente pela alavanca ou por aletas atrás do volante.

A calibração da suspensão McPherson na dianteira e multilink na traseira contribui bastante para a condução agradável, pois não é tão dura quanto se esperaria de um VW. Consideramos o conforto adequado, com boa absorção de pequenos impactos. A estabilidade também é boa, levando em conta a proposta do carro.

Então quer dizer que o carro é excelente, o que estamos esperando pra comprar um? Calma lá.

O preço incluindo o teto solar é de R$ 154 mil reais. Sem nada de desconto, que a VW tá se achando a Honda.

Esse valor permite olhar carros muito, mas muito interessantes. Mantendo no campo dos novos, pois comparar com usados não faz sentido, imediatamente vem à mente a BMW 320i. Um Audi A4 não fica fora de questão. Na mesma categoria tem a Equinox LTZ, bem mais potente. A Tiguan é excelente, mas cobra preço de carro premium por isso.


Estilo 6 – Aquela lenga lenga de carro sem criatividade no desenho, mas que também não envelhece. Parece um tanto comprida demais no segmento das portas traseiras.

Imagem – Refinamento, e estranhamente não parece tão “familiar” assim.

Acabamento 9 – Está mais próximo da excelência de Golf e Passat do que da aspereza de Polo. Pelo preço daria para exigir mais capricho nas portas e porta-objetos revestidos.

Posição de dirigir 10 – Amplas regulagens, memória, e não é exageradamente alta.

Instrumentos 9 – Esta versão não traz o painel digital, que não faz muita falta. A VW já faz excelentes painéis há algum tempo e este não é exceção. A tela central poderia ser colorida.

Itens de conveniência 7 – Porra Volks, deixar a chave presencial de fora foi bem tosco. O restante da lista de equipamentos é adequado.

Espaço interno 8 – É um carro de quatro muito bons lugares, um médio e dois para crianças e olhe lá.

Porta-malas 10 – 686 litros com a terceira fileira rebatida, que deve ser a maior parte das condições de uso. É gigantesco e muito bem acabado.

Motor 9 – O torque torna a condução muito agradável em velocidades civilizadas.

Desempenho 8 – Bem adequado à proposta, muito agradável na cidade. Na estrada pode faltar um pouco de potência para retomadas em alta velocidade.

Câmbio 10 – A nova calibração manteve a agilidade das trocas e suavizou o “buraco” das baixas rotações. Gostamos muito.

Freios 9 – Disco nas quatro, modulação adequada de pedal. Gostaríamos de um pouco mais de “mordida” no começo do curso.

Suspensão 8 – Muito boa calibração, parece que a Volks está abandonando aquela rigidez desnecessária.

Estabilidade 8 – É um carro familiar, não esportivo, e muito seguro.

Segurança passiva 9 – Seis air bags, plataforma nova, a família vai em segurança.

Custo-benefício 5 – É um bom carro, e a etiqueta de preço não está fora da realidade. Mas leva a pensar em opções como a Equinox, com quase o dobro da potência, e carros premium pagando-se pouco mais.

Comentários

Claudio disse…
Minha esposa foi ver uma na concessionária, exatamente nesse pacote e preço (R$ 154 mil com teto solar). Depois de algum tempo juntando economias, resolvemos substituir a nossa Grand Scenic 2008 por um SUV de sete lugares. O que de melhor achamos? O incrivelmente simples sistema de rebatimento dos bancos traseiros, o melhor de todos os veículos na configuração 5+2. No mais: construção correta, tudo no lugar... Mas o acabamento é pobre para o valor pago, interior sem inspiração, design que não empolga, e paleta de cores restrita. Fomos na Peugeot e negociamos um 5008 na lindíssima cor esmeralda pelo mesmo preço, uma experiência de dirigibilidade sem igual. É prudente levar isso em conta: quem quer um SUV de sete lugares não vai ligar para Equinox, A4, 320i... E quem quer um carro premium, o texto está correto, tem muitos motivos para não embarcar numa Tiguan.
Anônimo disse…
O preço dos carros no Brasil é realmente algo surreal...154 mil...Jesus...Já tem Tiguan da mais simples a 120 mil com taxa zero...os preços da Tiguan vão cair...acredito eu...mas na minha opinião é um baita carro.
Alexandro Campos disse…
Não falaram nada do consumo de combustível...

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