Clarkson, Hammond and May

Não deu pro Jeremy Clarkson. A BBC anunciou que não vai renovar seu contrato.

A se acreditar no comunicado oficial da emissora, é impossível discordar. JC empurrou e xingou o produtor. Esse tipo de comportamento deve ser inadmissível, independente de quem seja. JC não pode se esconder atrás de sua fama e talento para abusar dos outros, da mesma maneira que um político ou juiz não deve esconder atrás de seu cargo para desrespeitar as leis, por exemplo.

O mundo corporativo de hoje não aceita mais o talento “indomável”. Se você é um gênio, porém intratável (para quem assistia, lembrem do Dr. House), não há espaço para você nas empresas. Elas vão de bom grado contratar alguém menos brilhante porém mais sociável. E estão certos; dificilmente a genialidade compensa a brutalidade.

O próprio caso do Jeremy é exemplar. Sim, Top Gear era uma das maiores fontes de receita da BBC e sim, é um programa idolatrado no mundo todo. Vamos à prática: Top Gear ia ao ar no máximo duas vezes ao ano, em temporadas de cerca de oito episódios, exibidos aos domingos. Então, são 16 semanas de TG e outras 36 de abuso e provocação. A BBC inventa outro programa para esse período e, mesmo que a audiência seja 50% menor, vai fazer tanta diferença? Sem esquecermos que a BBC é praticamente a única empresa do mundo que é estatal e funciona bem; ela não depende de anunciantes e sim de uma taxa cobrada dos britânicos.

O que aliás explica como o TG podia ser tão ácido – não depende de anunciantes e boa vontade de montadoras. Pegando de cabeça, lembramos de dois episódios que as montadoras se recusaram a emprestar carros ao programa. Em um, filmado nos Estados Unidos, a então Chrysler recusou empréstimo de um Dodge Challenger. Eles foram lá e COMPRARAM um. E depois no teste elogiaram o carro. Outra vez, a Bentley recusou empréstimo de um carro para um comparativo que foi filmado na Albânia. JC arrumou um Yugo e ficou o programa todo chamando o carro de Bentley. Algumas temporadas depois a Bentley emprestou de bom grado um carro para ser testado na Austrália...

Essa característica do Top Gear, e que tentamos manter com a independência do M4R, é o que mais sentiremos falta. Isso e as imagens absolutamente incríveis dos carros feitas pelo programa. Se a Nigella Lawson inventou o “food porn”, Top Gear inventou o “car porn”.

O que vai acontecer com JC de agora em diante não sabemos – ou, como diz a ótima expressão do inglês, “is anyone’s guess”. Richard Hammond deixou de se manifestar nas redes sociais, mas James May segue ostentando sua solidariedade dizendo que também está desempregado.


Um novo Top Gear com JC em outra emissora seria um sucesso, obviamente. O que não sabemos é se ele teria seus companheiros ao lado – não só os apresentadores, mas também a equipe técnica extremamente qualificada – e, principalmente, se ele quer continuar falando de carros após 13 anos consecutivos de Top Gear.

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