Teste: Chevrolet Spin LTZ
Um
amigo interessado em carros, que já escreveu testes para este blog e que
trabalhou durante algum tempo na GM, não tinha rodeios ao afirmar que “a Zafira
é o melhor carro feito pela GMB hoje”, na época em que a linha tinha ainda
Meriva, Corsa, Astra e quetais.
Fácil
concordar. Mesmo cinco anos após o lançamento, os pontos fortes da Zafira não
haviam sido igualados pela concorrência. Amplo espaço interno numa embalagem
compacta, desempenho satisfatório, conforto e um sistema inteligente de
mudanças de bancos, conhecido como Flex-7, que permitia ocultar a terceira
fileira de forma inteligente e prática. A Zafira podia levar sete pessoas ou
então muita bagagem, com o simples acionamento de algumas alavancas. Projeto de
origem Opel, alemão, coisa bem pensada.
Também
era bem pensada a Meriva, carro com as mesmas origens, mas proposta diferente.
Sempre com cinco lugares, amplo espaço interno, bom porta-malas em embalagem
compacta.
Os
anos foram passando e a GM foi empobrecendo a sua linha. Enquanto a matriz
pedia falência e era dalva pelo governo americano, a filial brasileira se
encarregava de extrair a quantidade mais absurda de lucro possível e remeter
aos Estados Unidos, para tentar evitar a quebra da matriz e manter os bônus dos
executivos no Brasil, incumbidos de fazer exatamente isso.
Passada
a tempestade, a GMB procedeu com a renovação da linha. Mas a fonte não foi a
Opel, cada vez mais isolada dentro de um mundo GM que preza pela economia de
custis e nivelamento por baixo dos projetos. A Opel precisa concorrer com VW
alemã e Ford europeia, gente que não dorme em serviço e lança carro bom atrás
de carro bom. Então pro resto do mundo a GM não vai ficar mandando esses carros
bons, melhor mandar o que já é projetado pensando na galera ralé do terceiro
mundo.
Zafira
e Meriva há muito já tiveram sucessoras na Europa, carros modernos, amplos, bem
equipados e espaçosos. Para o Brasil coube a missão de projetar, a partir da
plataforma GSV de carros pequenos – que já serve de base para Onix, Cobalt e
Sonic – uma minivan que substituísse ambas. Nasceu a Spin.
Comparar
a Spin com as minivans sucessoras de Zafira e Meriva na Europa é covardia e nem
faz sentido. Coloca uma do lado de uma Grand C4 Picasso e dá pra começar a
termos uma ideia do que estamos falando.
A
Spin mira o mercado latino-americano e asiático, com proposta de baixo custo (menos
no Brasil) e alta confiabilidade. Em se pensando o marasmo que vive o segmento
de minivans aqui, não dá pra fugir da seguinte afirmação: a Spin é meio mais
barato de se levar sete pessoas no Brasil, ganhando inclusive da chinesa JAC
J6.
E
esta minivan com preço atraente surgiu do desafio de criar um carro para sete
pessoas na plataforma GSV, com o S significando “small”, ou pequeno. Isso
explica a traseira alta e truncada, solução comum para ganho de espaço. Explica
também a opção da GMB em escolher bancos de medidas reduzidas. É fácil se
sentir gordo ou alto na Spin: os bancos parecem ter sido desenhados para
pessoas de dimensões menoes que o usual. Estratégia para ganhar espaço interno,
à custa de algum conforto.
O
desenho não ficou ruim. A grade bipartida ficou bem neste carro “frentudo”, com
dois volumes claramente definidos. A traseria abrupta tem a função de ampliar o
espaço interno. Fica um tanto mal resolvida a questão das lanternas traseiras e
das rodas, muito pequenas para o carro. Chama a atenção a distância entre os
para-lamas e os pneus.
Dentro,
não há luxo e os plásticos são rígidos, mas a GMB foi muito inteligente nas
escolha das cores e dos tecidos. É um interior predominantemente cinza claro,
muito agradável, iluminado e com sensação de amplitude. Os tecidos, como é
padrão nos GM não básicos, é macio e aveludado, de boa qualidade. Trocar por um
couro sintético realmente não faz sentido.
A
posição de dirigir é mais alta que o comum, mas na Spin não há a sensação de
direção deitada. É como guiar um carro, só que alto. O banco do motorista pode
ser ajustado em altura, assim como o volante – mas não em profundidade. Mesmo
assim, a posição de dirigir é natural. O volante tem boa pega, revestido por um
ótimo couro perfurado em algumas seções, e o câmbio automático está à mão. No
volante estão ainda os comandos do rádio e do controlador de velocidade.
O
cluster é aquele bizarro com o conta-giros analógico e todo o resto digital.
Funciona bem para o velocímetro e o marcador de combustível, mas o computador
de bordo ficou espremido.
A
terceira fileira foi pensada para duas pessoas, e realmente só comporta
crianças ou adultos em trajetos muito curtos. Um adulto ainda consegue se
ajeitar sentando meio enviesado. Ponto positivo para os cintos de segurança,
tecido do mesmo bom padrão que os outros bancos, e ponto negativo para a
ausência de saídas de ar-condicionado para a segunda e terceira fileiras.
O
acesso é feito rebatendo-se a segunda fileira por meio de alças. O rebatimento
é fácil, mas o espaço liberado não é lá essas coisas. Entrar e sair requer
contorcionismo. Para recolher o banco, que não é bipartido (economia
imperdoável), basta dobrar o encosto, levantar o assento com uma alça... e prender
tudo com uma cordinha no apoio de cabeça da segunda fileira. Difícil imaginar
sistema mais porco. O banco não pode ser retirado e ocupa espaço considerável
do porta-malas.
O
motor da Spin é um 1.8 8v sem relação com a unidade mais moderna que equipa o
Cruze; é derivada do 1.8 Econoflex que impulsionava a Meriva. Faria mais
sentido, e talvez fosse até mais econômico, reaproveitar o 2,0 Monzatech de
Astra e Vectra em Spin e Cobalt, mas alguém do marketing deve ter achado que
não pegava bem ter um motor 2.0 nesses carros e um 1.8 no Cruze, que está acima
na cadeia alimentar. Então a Spin vem com um 1.8 jurássico de 108 cv com etanol
a 6200 rpm e 17,1m.kgf a 3200 rpm. Este conjunto é menos potente que o Ecotec,
mas oferece quase o mesmo torque a rotações menores. E, na condução sossegada
num carro automático familiar, tudo o que você quer é torque em baixa. O câmbio
automático de seis marchas, com opções de troca por meio de um botão na
alavanca e opção “S” de esportivo, está bem calibrado para o motor e mantem os
giros sempre em ótima faixa de torque. É consideravelmente diferente dos
automáticos em carros com motores maiores, que trabalham com o giro mais baixo
possível pensando em economia. Na Spin, raramente estamos abaixo de 2 mil rpm,
o que colabora com o desempenho, mas prejudica o consumo. As trocas são
decididas e suaves – em modo manual, há um pequeno lag entre o comando e a
troca efetiva, mas nada que incomode num carro com perfil familiar.
A
suspensão é a velha conhecida McPherson com eixo de torção e a calibragem está
mais para o duro, pensando que este é um carro com centro de gravidade alto e
que pode andar carregado com sete pessoas e malas. Poderia ser mais macia para
encarar pisos irregulares, mas como está não incomoda. Os freios são a tambor
atrás e fica a dúvida de como se comportariam com o carro totalmente carregado.
No uso que fizemos, o sistema foi bem. O pedal apresenta dinâmica correta.
A
visibilidade é surpreendentemente boa, e mesmo a traseira está mais perto do
que parece. O sensor de estacionamento na traseira é bem-vindo, e na dianteira
faz alguma falta. Ambos os retrovisores ezternos são convexos com bom campo de
visão.
A
LTZ testada é o topo da gama, equipada com airbag duplo, ABS, EBD, trio
elétrico (e o acionamento dos vidros não têm um-toque nem no motorista, fazia
tempo que não víamos isso), direção hidráulica com peso correto, ar manual,
rodas de liga leve, alarme, chave canivete, faróis dianteiros de neblina, computador
de bordo, sensor de estacionamento traseiro e sistema MyLink com entrada USB e
Bluetooth. É um pacote completo, mas que não traz nenhum diferencial realmente
interessante, a não ser talvez o MyLink. Um ou outro equipamento poderiam ser
incluídos, como mais airbags (crítico em se tratando de um carro familiar),
retrovisor fotocrômico e ar digital.
Dizer
se carros específicos são compras válidas é complicado, pois a base de
comparação é muito limitada. Quem realmente precisa de sete lugares tem na Spin
uma opção válida, assim como a Grand Livina por valores parecidos. A JAC J6
entra no páreo, mas o fato de não oferecer câmbio automático e a rede de
atendimento ser limitada são complicadores. Quem está pensando em cinco lugares
e porta-malas gigante já tem outros carros a considerar, como Spacefox, Palio
Weekend e um interessantíssimo New Fiesta sedan. O novo Logan vem aí, com seu
espaço imbatível.
O
que merecíamos de verdade seriam as gerações europeias de Meriva e Zafira,
pelos preços adequados e próximos ao que a Spin custa aqui. Em não sendo
possível, a Spin é um carro agradável, com um ambiente interno acolhedor e que
cumpre seu propósito sem nenhuma falha grave, embora o projeto não esconda suas
origens humildes.
Estilo
6 – Tem um pouco da beleza da forma seguindo a função como na Zafira, embora a
traseira merecesse um talento maior. Rodas pequenas.
Imagem
– Família ê, família a, família.
Acabamento
7 – É bem-executada, sem rebarbas ou falhas graves. O bom gosto da GM com
interior claro e bons tecidos ajuda muito.
Posição
de dirigir 7 – Surpreendentemente boa por ser uma minivan. Ajuste de
profundidade do volante poderia fazer parte.
Instrumentos
5 – Painel digital da GM usa ousadia simplesmente pela ousadia. Visualização do
computador de bordo é ruim.
Itens
de conveniência 8 – Completinha e o MyLink é um charme adicional. Mas faltam
alguns itens.
Espaço
interno 9 – Não é pequena e o espaço existente é bem aproveitado, mas os bancos
pequenos incomodam.
Porta-malas
9 – Grande, amplo e de fácil acesso, mas dá dó de ver aquele banco traseiro
preso por uma cordinha ocupando um terço do espaço.
Motor
3 – A filosofia de torque em baixa faz sentido pela proposta do carro, mas bem
que podia ser algo mais moderno.
Desempenho
4 – Automática, 108 cv, 1.255 kg vazia. Não é um F1.
Câmbio
8 – A troca no botão não é o ideal, mas de resto é exemplar.
Freios
6 – Tambor atrás deixa dúvidas no caso de frenagens de emergência com carro
carregado, mas no nosso teste foi tudo bem.
Suspensão
6 – Conceito padrão e calibragem adequada, levando em consideração a proposta
do carro.
Estabilidade
5 – Vai devagar que tá cheio de crianças e tralhas.
Segurança
passiva 2 – Só dois airbags em carro familiar, sem nem ao menos a opção de um
conjunto lateral e de cortina? Falha grave.
Custo-benefício
7 – Com sete lugares só a JAC J6, que só vem com câmbio manual, e a Gran
Livina, cujo auto vem só com 4 marchas. Mas para cinco pessoas e muito
porta-malas existem opções a considerar.
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