Quando a vítima é culpada

O blog do Flávio Gomes é um dos favoritos do M4R, em que pese a preferência um tanto descabida por carros antigos do antigo bloco comunista.

Chamou a atenção estes dias o relato de um leitor revoltado com a inspeção veicular de São Paulo. O M4R defende a iniciativa, embora saiba que no formato atual ela tem diversos problemas, dentre os quais acusações de corrupção envolvendo a prefeitura e os prestadores de serviço.

O relato do leitor, reproduzido abaixo, vai além disso. Ele resume a diferença entre nos fazermos de vítimas ou de protagonistas. Os comentários do M4R estão em itálico, ao longo do texto.

Olá Flavio,

Gostaria de compartilhar contigo o que ocorreu comigo hoje na famigerada inspeção veicular de SP.

Agendei minha inspeção para as 13:34 de hoje no Controlar Tatuapé, que segundo o Sr. Prefeito,
é o maior centro de inspeção veicular do mundo.

Palmas para o Sr. Prefeito.

A coisa começou mal quando eu, com medo do trânsito da época de Natal, resolvi sair mais cedo do trabalho e deixei de almoçar para encarar uma marginal engarrafada da Zona Sul até a ponte do Tatuapé (atualmente existem diversos pontos de inspeção em São Paulo. O Tatuapé é talvez o ponto de inspeção mais distante da Zona Sul. O cidadão resolveru atravessar a cidade porque quis. Pare de se fazer de vítima.)

e acabei chegando ao local com 45 minutos de antecedência. 47, para ser mais exato. E aí o rapaz da entrada não queria me deixar entrar, pois 30 minutos de antededência pode, mas 47 não, mesmo o maior centro de inspeção veicular do mundo operando abaixo de sua capacidade, cheio de funcionários (pagos por nós, aliás) sentados batendo papo.

(Ok. não custava nada terem deixado o cidadão entrar. Também não custava nada ele ter ido tomar um café na padaria e esperado 17 minutos. Pare de se fazer de vítima.)

Usei isso como argumento e o infeliz disse que nesse caso, abriria uma exceção se eu “colaborasse” com ele. Entendi perfeitamente que ele me pediu suborno, grana, propina, e blefei dizendo que a conversa estava sendo gravada com a câmera do meu celular e o idiota acreditou.

(Suborno é absurdo em qualquer situação. Isto exige denúncia. Se o cidadão não denunciu, fez-se de vítima mais uma vez.)

Disse que nesse caso abriria uma exceção, mas que da próxima vez, meio que antevendo o que aconteceria, eu deveria chegar 30 minutos mais cedo ou mais tarde, porque 47 não pode.
Meu carro, um Voyage 1.6 2010 com todas as revisões e trocas de óleo em dia, passou bonito na emissão dos poluentes, os tais microgramas, picogramas, nanogramas, sei lá. Mas foi reprovado na inspeção visual, veja você. Perguntei então do que se tratava a tal inspeção visual. Tem um amassadinho do lado, ele estava meio sujo, achei que fosse isso. Mas não. Era uma mangueirinha de bosta que estava desconectada, a mangueirinha do respiro do motor. E então eu reconectei a mangueirinha com as mãos mesmo, já que nem de abraçadeira ela precisa, e achei que meu problema estava resolvido. Segundo o “técnico”, o Sistema, aquela entidade suprema, como bem definida por você, não permite que seja feita outra inspeção sem que eu volte para casa, faça outro agendamento e perca um tempo precioso do meu dia para levar o carro até o quinto dos infernos. Eu ainda perguntei por que ele não me avisou da bendita mangueira antes de fechar a inspeção, já que se tratava de um item muito simples. Ele me respondeu que o Sistema, esse Ser superior, não permite que seja feita nenhuma intervenção no veículo uma vez que o mesmo se encontre estacionado sobre a área azul. Segundo ele, o Sistema filma tudo. Para mim ficou claro que o rapaz da entrada cantou a bola para o “técnico” desconectar a mangueirinha e me reprovar na inspeção.

(E o cidadão ficou fazendo o quê, ao invés de acompanhar a inspeção com o técnico, que é permitido? Chupando sorvete? Assim ele teria provas de que o técnico soltou a tal da mangueira. Pare de se fazer de vítima.)

Aí eu perdi a razão e comecei a bater boca com o sujeito. Errado, mas nada além de um “então vão se foder todos vocês, vocês são uns bostas”.
Saí cantando pneu

(Realmente um comportamento bastante adulto e civilizado. Quando chega uma multa na casa dele o que será que acontece, ele fica nervosinho e bate na mesa? Vai chorar pra mamãe? Pare de se fazer de vítima.)

e, de repente, vários brucutus brotaram do chão e começaram a cercar meu carro com cones, pois não queriam me deixar sair.

Atropelei todos eles (os cones, não os brucutus) e chegando ao portão de saída, o brucutu da vez, aparentemente seguindo ordens de não me deixar sair a qualquer custo, fechou o portão de ferro na lateral do carro que estava à minha frente, um Monza vinho super bem conservado que me deu até pena, achando que o meliante fosse ele. O cara do Monza ficou puto, saiu do carro sem entender nada, e eu aproveitei a brecha e escapei pela Marginal Tietê, repleta de ônibus e caminhões soltando fuligem pelo escape.

(O cidadão fugiu. Bem civilizado. Sabia que estava errado e, ao invés de dialogar, atropelou os cones - que também são comprados com o dinheiro dos impostos deles e de todos os paulistanos. Além de se fazer de vítima, não percebe quando ele é que está errado. A culpa é sempre do governo. Aliás, depois desse relato, temos sérias dúvidas se o episódio do suborno aconteceu mesmo).

Essa é a inspeção ambiental de SP, orgulho do nosso prefeito. Agora estou aqui, esperando o Sistema, esse Ser supremo, me multar por excesso de velocidade na área azul, ou quem sabe me processar por pertubar a ordem nesse inferno que é a cidade de SP.

(Seria justo. Se acontecer, vai vir mais uma desculpa. Pare de se fazer de vítima).

É isso. Se você achar pertinente, ficaria feliz se publicasse no seu blog. Quem mora em SP, paga imposto e cumpre as leis não pode aceitar esse escândalo que é o Controlar passivamente. Acredito que qualquer forma de divulgação é válida.
Obrigado por ler até aqui. Admiro muito o seu trabalho.

Comentários

Anônimo disse…
esse cara deve ser um "estrelinha", tipica pessoa que quer ser o centro da atenção, desrespeita as pessoas, a faixa a sinalização, só que esse pobre coitado não percebe que se desrespeita a ele próprio. Só por ter comprado um voyage, sendo um Volkswagem já mostra o nível desse ser humano. É o consumidor típico da Volks não faz qq manutenção, coloca sempre álcool, motor 1.0, pneus carecas e parcelas em 60 vezes, sendo que comprou um semi-novo, diz se julgar esperto por não sofrer a grande desvalorização dos 2 primeiros anos, mas na verdade é porque ele não tem dinheiro. Reclama do governo mas não faz nem a sua parte que seria respeitar as leis de trânsito. Com certeza mora na ZL ou na extrema zona sul
Wrca disse…
Bem, história torpe. Porém fazer a inspeção é um pé no saco. Não achava isso, até levar a CRV da minha amiga, tirada 0km em 2008 e a mesma ter sido reprovada 3 vezes. Perda de tempo dinheiro e paciência. Nem a Honda sabia o que deveria ser feito. Mecanico chefe da Daitan disse que colocasse somente alcool no tanque e fosse, e era a última tentativa. Conferi na internet isso, e vi que dava certo, enfim, um lixo cheio de brechas apenas para aumentar a arrecadação do cofres públicos.
Anônimo disse…
Concordando com todos os comentários, gostaria de lembrar ao Dub que não se pode acompanhar coisa alguma;que existe local delimitado para que o "propriotário" por lá permaneça...
abs
Marcos disse…
Nossa, o comentário desse anônimo lá de cima tem tudo a ver com o assunto hein... 'tipico comprador de vw da ZN'.

que diabos isso tem a ver? Já começa com essa bobagem já começa errado amigo.
Anônimo disse…
O Marcos é da zona Leste, se identificou.rs

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