Volkswagen Voyage 1.6 Comfortline

Eu lembro quando a Fiat parou de produzir o Prêmio em Betim e passou a importá-lo da Argentina, com o nome de Duna e tudo. Tinha um vinho, completíssimo, que eu via sempre numa rua. Era um dos únicos, também. E é o que dizia a sabedoria daqueles tempos, sedã pequeno no Brasil não vende. O Monza ia bem, a própria procura pelo Vectra II, quando de seu lançamento em 96, mostrava que havia um mercado consolidado de sedãs grandes. Mas os pequenos não emplacavam. A Ford só foi oferecer uma alternativa decente no segmento com o Fiesta Sedan, pois até então as tentativas do Verona foram muito fracas.

A coisa era tão ruim que a VW tirou o seu sedã pequeno de linha, o Voyage, quando reformulou o Gol quadrado no Gol bolinha, em 94. Não achou que seria necessário ter uma versão sedã do carro. O Corsa sedã, que só seria lançado em 95, demorou uns bons anos para engrenar.

Só que engrenou. A coisa toda engrenou, na verdade. O Siena deixou de ser o patinho feio da família Palio, embelezou-se na reforma de 2001 e hoje não só é um destaque de vendas como tornou-se o queridinho dos taxistas. O Clio Sedan nunca pegou, mas o Logan está aí com boas vendas. A GM tem três carros no mesmo segmento: o Classic, o Prisma e o Corsa Sedan, sendo que só o último presta. Todos participando da festa e a VW de fora.

O Polo Sedan sofreu, nessas. É um produto refinado, segue a concepção construtiva do irmão menor hatch e portanto nunca foi barato: tem solda a laser, dobradiças pantográficas no porta-malas, maçanetas internas cromadas. Chegou a ser o produto VW voltado aos taxistas, quando o Santana morreu, mas agora pode assumir um papel de sedã pequeno com preço e modos de sedã médio como lhe convém. Pois a Volks finalmente oferece um sedã pequeno de entrada: o Voyage.

Quer dizer, de entrada é relativo. Prisma e Classic são inferiores construtivamente. O Siena tem menos espaço interno. É mais correto pensar no Voyage como um Polo Sedan simplificado do que como um concorrente dos sedãs citados. E desta vez a Volks não babou no preço: um Trend 1.6 (esqueça o 1.0, não presta) com os opcionais mínimos – ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas – pode ser achado por R$ 39 mil reais, a mesma faixa de Siena e Corsa Sedan 1.4, que são bem inferiores em desempenho e, no caso do Fiat, em comportamento. Esta faixa ainda permite uma distância correta de valores em relação ao Polo Sedan, de R$ 45 mil.

E a primeira pergunta é: O Polo Sedan realmente vale essa diferença?

Cada centavo. Começa pela forração dupla das portas do Polo, que fecham com um sonoro “clunk” de carros caros. Continua nas maçanetas internas cromadas, no acabamento em plástico acetinado do controle central, na rigidez torcional conseguida com a solda a laser, nas dobradiças pantográficas que não invadem o porta-malas e no acabamento da própria tampa.

Mas ainda assim o Voyage entrega muito pelo preço. A versão avaliada, 1.6 Comfortline, é apenas 1,5 mil reais mais cara que a Trend e agrega itens estéticos interessantes, como os frisos cromados e pode vir equipada com o computador de bordo I-System, dos melhores do mercado em funções e sem dúvida o mais bonito, com a iluminação branca.


É um habitáculo no qual o motorista se sente bem. Depõem contra os plásticos duros e aquelas saídas de ar redondas que, embora práticas, terão sempre um ar de carro básico. Todo o resto é bom: o volante tem boa pega, o banco é de ótima espuma e segura bem o corpo nas curvas; a posição de dirigir é centralizada e o motorista conta com espaço suficiente. Atrás, uma pessoa de 1,80m não encosta os joelhos no banco da frente, este regulado para uma pessoa da mesma altura. Há ainda bom espaço para a cabeça em ambos os assentos.

O acabamento de fato deixa a desejar, com abuso de plásticos duros e tecido áspero. Está no nível do Corsa Sedan neste aspecto e ligeiramente abaixo do Siena. Ao menos os botões e alavancas têm peso e acionamento corretos. O desenho interno também poderia melhorar, mas aí já seria esperar demais de uma marca que tradicionalmente é bastante conservadora em seus interiores.

O painel é simples, mas tem boa leitura e iluminação atraente. O I-System, opcional, é um show à parte: um computador de bordo dos mais completos e com uma iluminação em branco muito elegante. Ele traz autonomia, consumo instantâneo e médio, distância percorrida, tempo de viagem e velocidade média, sendo todos menos os dois primeiros têm dois valores: um que é zerado a cada duas horas que o carro passa desligado e outro que zera após 9999 km ou 99h59 minutos ao volante; ambos podem ser zerados pelo motorista.

Andando, é impossível não lembrar do Polo Sedan. O comportamento é muito correto, tendendo ligeiramente para a dureza, como, aliás, é comum nos carros da VW. A direção hidráulica tem ótimo peso em baixas velocidades e os comandos ficam à mão do motorista (embora o acionamento dos faróis na alavanca de seta, e não no painel, entregue a economia de custos, assim como o tecido áspero). O câmbio é uma delícia, a mesma unidade que equipa Fox, Polo e Golf com motores 1.6, e a visibilidade é ampla, apesar do espelho esquerdo não ser bi-convexo. Como na maioria dos sedãs atuais, não se vê a tampa do porta-malas, e por isso é fortemente recomedável a instalação de um sensor de estacionamento traseiro.

De uma maneira geral, é bastante superior a todos os carros do seu segmento, da mesma maneira que conduzir um Polo Sedan é bem melhor que um Corsa Sedan, pela impressão de carro superior. O Siena é apertado; o Prisma parece que vai quebrar; o Voyage está no mínimo no mesmo nível dos melhores carros desta categoria, Fiesta e Corsa, e todos um degrau abaixo do Polo.

A suspensão rígida garante a rigidez e a estabilidade. É um carro gostoso de entrar rápido em curvas pela sua previsibilidade e reações rápidas da direção, embora a carroceria role mais que o necessário. Já numa condução tranquila, falta conforto. Neste ponto, o acerto do Corsa Sedan é melhor no compromisso entre suavidade e estabilidade.

O porta-malas é adequado para a categoria, que traz muitos representantes com capacidades adequadas a uma família, ou seja, acima de 400 litros. Não é dos maiores, como o Siena, mas atende bem. Infelizmente as dobradiças são regulares, que invadem espaço no porta-malas, embora estejam bem afastadas e isso ajude um pouco.

Assim como o novo Gol, o Voyage é uma excelente compra. Se o Gol ainda é bem caro pelo pouco que oferece, o Voyage vem com preços melhores e mais equipamentos, embora brigue num segmento cheio de cobras. Não é o mais bonito do mundo, mas é muito agradável de guiar e entrega cada centavo investido, exceção feita ao acabamento. Juntamente com o Fiesta 1.6, é o sedã pequeno com o melhor compromisso custo-benefício, já que o Polo Sedan cobra caro pelos seus refinamentos.

E é melhor a Fiat agilizar o projheto do novo Palio, que somente o ar de Alfa Romeo não vai facilitar a vida do Siena...


Estilo 5 – Decididamente é o ponto fraco. A VW chegou a mostrar um esboço de um fastback, parecido com um Passat CC (ver acima), que tornaria o Voyage de longe o mais bonito da categoria. Do jeito que ficou, é um sedã que não fede e nem cheira, mais feio que o Polo (provavelmente de propósito), mas adequado.

Imagem – Não tem a fama de robustez e jovialidade do Gol, e ao mesmo tempo lhe falta maturidade como sedã, coisa que o Siena tem. É, por enquanto, apenas novidadoso, e por isso serve a todos os públicos.

Acabamento 6 – Muito plástico, desenho simplório, faltam detalhes interessantes. Mas é bem montado e todas as peças móveis oferecem resistência adequada. O tecido sim poderia melhorar muito.

Posição de dirigir 9 – Coisas de uma plataforma evoluída: ajuste de altura e profundidade do volante, mais altura do banco, permitem chegar a uma posição de dirigir excelente. Os bancos ajudam, com apoio adequado.

Instrumentos 7 – Traz o básico. Ganha um ponto extra pela bonita iluminação, em especial a do I-System.

Itens de conveniência 4 – Não tem muita coisa de série, mas se mantém interessante mesmo com os opcionais agregados. Uma pena precisar colocar ar-condicionado à parte já num carro desse valor.

Espaço interno 8 – Assim como no Polo, a VW usa de uma artimanha para aumentar o espaço traseiro do Voyage: o banco é mais afundado do que deveria no encontro com o encosto, o que leva o passageiro a grudar no mesmo e, portanto, a dar máxima distância tanto do teto quanto do banco da frente. Funciona, e nem é tão desconfortável. De qualquer maneira, o principal problema é mesmo a largura.

Porta-malas 8 – A capacidade é excepcional, 480 litros, acima do Polo, mas abaixo de Siena, Clio Sedan e Logan. Serve bem às necessidades do dia-a-dia, embora as dobradiças “pescoço de ganso” e a falta de forração na tampa sejam pontos negativos.

Motor 7 – O EA-111 já começa a viver seu ocaso na produção nacional. Estacionou em um patamar baixo de potência e torque, mesmo com a revisão recente da VW para 2009, e não está à altura de algumas unidades mais recentes, como se pode notar pelo consumo um tanto elevado. No entanto, é bastante linear, robusto e empurra o pouco peso do Voyage com facilidade.

Desempenho 9 – É surpreendente. Após anos vendo o EA-111 sofrer para empurrar os pesos-pesados Golf e Polo, é bom ver o motor bem mais solto empurrando um Voyage de 989 kg. O carro anda muito bem, e mesmo com as relações de marcha alongadas instiga a aceleração. Se o motor não fosse tão linear e tivesse uma mudança de comportamento, como acontece normalmente com os multiválvulas, este sedãzinho seria ainda mais delicioso.

Câmbio 10 – A VW se beneficia de poder aplicar economia de escala a um excelente produto, a caixa argentina MQ-100. Ao invés dos carros GM, que compartilham quase todos a mesma caixa porcaria, aqui temos uma série de veículos equipados com uma caixa à altura das melhores nacionais, as Honda. E o recente alongamento das marchas deixou o carro ainda melhor, mais econômico e silencioso na estrada.

Freios 6 – O esquema de disco ventilado à frente e tambor atrás não emociona ninguém, mas também o carro é leve e não precisa de muito. Ainda que existe ABS na lista de opcionais.

Suspensão 6 – Eu não entendi o motivo do qual a VW usar a suspensão do Novo Polo (por enquanto o Seat Ibiza europeu) na dianteira do Voyage e manter a traseira do Gol antigo e mesmo assim chegar a um resultado pior que o da linha Polo. O Voyage é ligeiramente mais duro, o que contribui com a estabilidade mas transmite a irregularidade das ruas para a cabine.

Estabilidade 8 – É o prêmio por se ter uma suspensão dura, embora novamente a inclinação da carroceria esteja além do desejável. Os pneus largos e baixos, 195/55 R15 da versão Comfortline contribuem e muito para essa sensação.

Segurança passiva 2 – Tudo é opcional, mas ao menos pode-se esperar algo em termos de rigidez estrutural de um carro construído numa plataforma mais atual – embora dispense a solda a laser do Polo. O Comfortline traz 5 apoios de cabeça, já é um começo.

Custo-benefício 8 – É difícil falar em custo-benefício em épocas que o usado não vale nada. Considerando apenas o preço e a concorrência, um Voyage Trend ou Comfortline por cerca de 40 mil reais é uma excelente compra. Mas se o preço disso for desvalorizar o seu usado em 30%, a coisa muda de figura.

Comentários

Paulo Amparo disse…
Excelente texto! Muito bem escrito e esclarecedor! Estou pra adquirir um Voyage Comfortline e esse post me ajudou na decisão. Vlw
Unknown disse…
Gostei muito do seu explicativo, estou querendo comprar um comfortline para o meu marido e essas dicas me ajudaram bastante. Obrigada!!!
Anônimo disse…
parabens pelo texto. estou pra adquirir um voyagem confortline e tambem me ajudou na decisão.

um dica seria colocar uma tabela comparativa de itens entrem o trend e o confortline
joaozinho.taxi@hotmail.com disse…
tambem estou decidido vou comprar um,estava em duvida entre o polo eo voyage.
Anônimo disse…
sardinha. ajudou bastante

Postagens mais visitadas deste blog

Comparativo: Celta Life 1.0 VHC x Palio 1.0 Fire

Teste: Nissan Livina S 1.8 automática

Gol G4 com interior de G3