Teste: Honda Civic Hybrid (híbrido) e:HEV

 



Quase apanhamos. Talvez não tenhamos apanhado pois nosso amigo ficou com medo que a gente piorasse. Ele achou que com certeza a gente estava despirocado quando dissemos que esse Honda Civic não deixa a desejar para uma BMW 320i.

 

É forçoso entender que tanto Civic quanto Corolla às vezes dão saltos quânticos em qualidade de uma geração para outra. Hoje, ambos têm o porte de Accord ou Camry de duas ou três gerações atrás, e comportamento até melhor. O Corolla é outro carro se comparado à geração anterior. Evolução brutal mesmo, se a Toyota quisesse poderia ter dado outro nome.

 

A Honda já havia feito isso no Civic G10, o último que tínhamos fabricado no Brasil. Um salto de qualidade absurdo em relação ao antecessor, e por sua vez o “New Civic” de 2006 foi outro salto quântico. O Civic atual aprofunda essa melhoria com um refinamento que não é comum nessa categoria. Se tiver a oportunidade, abra e feche as portas de um e conta pra gente se não é do mesmo nível de uma BMW 320i.

 

Outra similaridade é o tamanho, o Civic está longo e baixo, e com isso a posição de dirigir com os pedais lá no Deus me livre e o volante pequeno junto ao corpo é simplesmente magnífica. Você se sente vestindo o carro.

 

O design de fato não empolga, ainda mais depois do Civic anterior. A frente é bonita até, mas a lateral parece qualquer outro carro e a traseira não diz a que veio com aquelas laternas enormes (e luzes de pisca e de ré com lâmpadas em pleno 2025). A Honda chama essa nova assinatura de design de “low and wide”, e deixar carros mais largos e baixos costuma ser uma boa pedida, basta ver quando a indústria americana fez isso dos anos 50 para os 60.

 

Por dentro a Honda seguiu pelo conservadorismo e honestamente não é tão ruim considerando que alguns interiores estão mais pra BOATCHY do que elegância (alô Mercedes). Gostamos de interior de carro com cara de interior de carro. A Honda usa um branco infeliz para o couro interno, uma cor gelo quase cinza que dá a impressão de encardido. O resto é preto e com ótimos materiais, inclusive o próprio couro, e execução japonesa, ou seja, excelente. Plástico duro só mesmo na parte inferior das portas e do painel. Até nas portas traseiras é bom. A grelha que disfarça as saídas de ar é muito elegante e traz personalidade ao painel.

 

Agora o multimídia... pessoal... se o multimídia é para você fator decisivo, pode fugir. É vergonhoso um multimídia desses em 2025. Tela de 9 polegadas que parece de 5, qualidade de display digna de Motorola StarTAC, e na unidade avaliada em alguns momentos a tela simplesmente apagava (mantendo a música) ou então não ligava a não ser que desligássemos e ligássemos o carro. A câmera de ré então é falta de educação, imagem pequena e horrorosa, sem compensação de luz quando você entra em local escuro, não tem as guias móveis que acompanham a direção das rodas, é particularmente medonho. E pelo jeito que está enfiada no painel não sabemos se seria possível trocar por algo melhor. É triste num carro com a tecnologia como argumento de vendas ter essa central medonha.

 

O cluster não melhora muito, pois apesar de digital não apresenta muitas configurações. Começa que não há conta-giros nem no modo de condução Sport. O velocímetro fica na esquerda, com repetidor digital na parte central do cluster,  e no centro podem vir as informações de mídia, como rádio ou música sendo tocada. Na esquerda foca o medidor de uso de potência, graduado de 0 a 100 em escalas de 25 e que no uso diário mal se move pois dificilmente precisamos de mais de 20% da potência disponível. A parte central é configurável e pode trazer diversas informações, porém não todas juntas. Inclui consumo instantâneo, de viagem, autonomia, indicação de uso de cinto de segurança, atenção do motorista e a nossa favorita que é um diagrama que mostra o uso do motor a combustão e elétrico para propulsão ou carregamento.

 

Na extrema direita fica o marcador de combustível com 10 barrinhas. Mesmo com o diminuto tanque de 40 litros, ele demora tanto para baixar que não faz diferença. A autonomia em uso urbano é superior a 500km em nossos testes, e o consumo é melhor tanto quanto pior é o trânsito. Superamos por diversas vezes os 20 km/l pegando trânsitos muito intensos, e a média dos tanques ficava sempre acima de 18 km/l. Lembrando que o motor é somente gasolina.

 

Já na extrema esquerda fica o marcador de carga da bateria. No uso normal urbano ela oscila entre três ou quatro palitinhos acesos. Menos do que isso o motor a combustão liga para carregar. Na estrada, com motor a combustão ligado o tempo todo, ela vai carregando, mas não chega na carga total – o máximo que conseguimos foram 9 barrinhas. Com a bateria mais cheia o motor elétrico atua mais para aliviar o consumo e nisso diminui a carga acumulada.

 

O espaço interno é bem aproveitado e faz jus ao (grande) tamanho, afinal este Civic é mais comprido que um Taos. Há espaço de sobra para pernas tanto na frente quanto atrás, e somente gente com mais de 1,85m vai se incomodar com o caimento do teto. E isso em conjunto com um bom porta-malas de 495 litros, maior que os de vários SUVs pra galera do “preciso de um SUV para levar minhas coisas”.

 

É importante notar também a espetacular posição de dirigir. Ajustes elétricos e amplitude no ajuste do volante permitem uma posição de cockpit mesmo, e os bancos conciliam conforto e suporte lateral na medida exata. O volante pequeno e de ótimo revestimento completa o ambiente de pilotagem em grande estilo e fazem qualquer ida à padaria se tornar uma ocasião especial. É curioso notar como a calibração da direção vai mais para o pesado, chega a incomodar no uso urbano. Nesse mar de SUVs, como é bom uma posição de dirigir mais baixa, com as pernas mais esticadas e um volante vertical próximo ao peito. A ergonomia é igualmente excelente com todos os comandos ao alcance e com aquela resistência nos comandos de carros premium que gostamos – a alavanca da seta é particularmente boa. Se o preço a se pagar por esse foco no motorista for uma multimídia bisonha, nós aceitamos.

 

A dirigibilidade foi comentada no texto anterior sobre as impressões iniciais de dirigir um carro híbrido. O destaque vai para o “launch feel”, a sensação de arrancada a partir da imobilidade. O carro desliza fácil com o motor elétrico e se necessário rapidamente o motor a combustão já entra numa rotação que permite o empuxo imediato. É um carro para você sair na frente no semáforo sempre, ágil para mudanças de faixa.

 

Em altas velocidades, embora continue muito bom, já não é tão espetacular com relação aos carros a combustão. Há uma reserva de potência importante que permite ultrapassagens com segurança, e mais do que isso, uma composição de carroceria e suspensão que dão confiança ao motorista.Mas o forte não é altíssimas velocidades, para isso seria necessária mais potência do motor a combustão, que roda no ciclo Atkinson para economia de combustível.

 

Os números são 143 cv a 6 mil rpm do 2.0 16v com duplo comando de válvulas no cabeçote, e 19,1 m.kgf a 4.500 rpm. Seria um desempenho mediano sem a adição do motor elétrico que eleva a potência total a 184 cv, o que não é muito impressionante, mas coloca o torque em excelentes 32,1 m.kgf com parte dele disponível desde 0 rpm. A transmissão é chamada de e-CVT pela Honda e combina um mecanismo CVT para o motor a combustão e a marcha fixa do motor elétrico. Não achamos isso na ficha técnica, mas aparentemente o câmbio não tem ré: todas as manobras para trás foram sempre impulsionadas somente pelo motor elétrico.

 

O desempenho, como seria de esperar,é espetacular na aceleração, 7,8s no 0 a 100 km/h, e velocidade máxima limitada a 180 km/h, e não iria a muito mais do que isso. O comportamento é excelente, com estabilidade a todo momento, você sente o carro realmente bem assentado na pista. A suspensão é estado da arte para carros civis com McPherson na dianteira e Multilink na traseira, conciliando muito bem conforto e estabililidade. Contribuem os pneus 215/50 R17, que não são excessivamente finos.

 

Continua sendo um Honda e um Civic, então existe uma preocupação adicional com a dirigibilidade e isso se nota. Por mais que o Corolla tenha evoluído uma barbaridade, o Civic continua com um tempero adicional no uso esportivo e não é à toa que fizemos a comparação com a BMW 320, de tão bom que é.

 

Os freios são a disco nas quatro, ventilados na dianteira, com frenagens seguras e regenerativas para a bateria.

 

A extensa lista de equipamentos inclui:

Segurança e Assistência ao Motorista (Honda SENSING)

O carro vem de série com o pacote completo de assistências à condução:

·       ACC (Controle de Cruzeiro Adaptativo): Com função Low Speed Follow (que segue o carro da frente e para/volta a acelerar no trânsito lento).

·       CMBS (Sistema de Frenagem para Mitigação de Colisão): Alerta e freia automaticamente para reduzir ou evitar impactos frontais.

·       LKAS (Sistema de Assistência de Permanência em Faixa): Monitora as faixas e ajusta o volante para manter o veículo centralizado.

·       RDM (Sistema para Mitigação de Evasão de Pista): Ajusta a direção e freia, se necessário, para evitar que o carro saia da pista.

·       AHB (Ajuste Automático de Farol Alto): Comuta automaticamente entre farol alto e baixo.

·       Airbags: 8 airbags (frontais, laterais dianteiros, laterais traseiros e de cortina).

·       Honda LaneWatch: Câmera no retrovisor direito que amplia o campo de visão para reduzir o ponto cego.

·       Câmera de Ré Multivisão: Com três ângulos de visão e linhas dinâmicas.

·       Sensores de Estacionamento: Dianteiros e traseiros com aviso sonoro e luminoso.

·       EPB (Freio de Estacionamento Eletrônico): Com função Brake Hold (mantém o carro parado sem pisar no pedal do freio).

·       TPMS: Sistema de monitoramento de pressão dos pneus.

2. Tecnologia e Conectividade

·       Painel de Instrumentos: Digital TFT de 10,2 polegadas de alta resolução.

·       Central Multimídia: Tela de 9 polegadas com interface para Apple CarPlay e Android Auto (sem fio para CarPlay).

·       myHonda Connect: Plataforma de conectividade que oferece serviços de segurança e assistência remota.

·       Sistema de Som: Premium da marca BOSE.

·       Carregador por Indução (Wireless): Para celular.

·       Entradas USB: 2 na dianteira e 2 na traseira.

·       ANC (Cancelamento Ativo de Ruído): Auxilia no conforto acústico da cabine.

3. Conforto e Acabamento

·       Ar-Condicionado: Digital, com duas zonas (Dual Zone).

·       Bancos: Revestidos em couro (incluindo volante e alavanca do câmbio).

·       Ajuste Elétrico dos Bancos: Para motorista e passageiro dianteiro (Power Seat).

·       Teto Solar: Com função One-Touch.

·       Chave Smart Entry: Acesso por sensor de aproximação e botão de partida.

·       Modos de Condução: Normal, ECON, Sport (e geralmente o modo Individual).

·       Retrovisor Interno: Eletrocrômico (escurece automaticamente).

·       Faróis: Full LED (baixo, alto e DRL - Luz de Rodagem Diurna).

·       Rodas: Liga leve de 17 polegadas.

 

O ACC é muito bom e suave na aceleração para a retomada de velocidade. Só incomoda a necessidade absoluta de manter a distância do carro à frente, o que leva a freadas desnecessárias quando um carro entra na frente.

 

Já o Lanewatch, o item exclusivo da Honda que consiste numa câmera sob o retrovisor direito, achamos bem inútil. No modo padrão, pelo qual ela ativa toda vez que se aciona a seta para a direita, acaba atrapalhando pois a imagem toma toda a tela do multimídia e apaga o espelhamento do navegador. Existe uma função de navegação no painel central, mas ela não é confiável e por diversas vezes deixou de indicar conversões mostradas pelo Waze no multimídia. Com isso acabamos desativando a função e acionando somente pelo botão na extremidade da alavanca da seta, e com isso não usamos quase nunca, até porque estamos acostumados a dirigir com a imagem do retrovisor somente. Ficou uma inovação meio sem sentido até que o multimídia mantenha a navegação enquanto mostra a imagem.

 

Dos equipamentos, sentimos falta de um fechamento elétrico do porta-malas, câmera 360, sistema de estacionamento automático, e mais que tudo de um multimídia decente.

 

Reconhecemos que são perfumarias e que preferimos um carro bem projetado e executado, como esse Civic, do que um carro recheado de equipamentos que funcionam mal ou não passam confiança (alô Jeep).

 

Porém, é fato que a Honda foi com muita sede ao pote. Dá pra entender; é um carro refinado, com bastante tecnologia, execução japonesa, e importado da Tailândia pagando um buzilhão de impostos. Podemos até acreditar que, mesmo nesse preço, o Civic não dá tanto lucro assim. Só que nada disso importa para o consumidor que vê o preço pedido acima de 240 mil reais e imediatamente pensa em carros com mais status e tem dificuldade em associar um carro relativamente mundano como o Civic a esse preço, por mais que de mundano ele não tenha nada nessa versão.

 

As qualidades mecânicas e de dirigibilidade do Civic o tornam melhor que quase tudo na faixa de preço, até porque a maioria é SUV. Onde o calo aperta mesmo é contra o Corolla, que até perde na comparação direta com o Honda, porém é bastante parelho e aí o preço bem menor faz a diferença. Outro carro interessante na faixa de preço, menos tecnológico e espaçoso, porém com outros atributos, é o Audi A3.

 

Não é à toa que vemos muito poucos desse Civic na rua. O produto é excelente, mas não tem como justificar o valor pedido.

 

Estilo 8 – É bonito, mas é genérico com exceção da frente ligeiramente mais marcante.

 

Imagem – Entusiasta com consciência ambiental. E dinheiro sobrando.

 

Acabamento 9 – Plásticos macios, belo couro perfurado, detalhes bem pensados como a grade dos difusores internos, e execução impecável.

 

Posição de dirigir 10 – Faz tempo que não dirigíamos um carro no qual isso fosse tão instigante. Talvez desde a BMW 320.

 

Instrumentos 6 – Podia ter mais opções de customização e informações sobre o carro, mas não é ruim. A resolução é ótima.

 

Itens de conveniência 8 – É bem completo e o que falta é perfumaria, porém justificável pelo preço.

 

Espaço interno 9 – Excelente para quatro adultos ou três crianças atrás.

 

Porta-malas 9 – Muito bom tamanho e usabilidade.

 

Motor 10 – O conjunto propulsor como um todo entrega desempenho e economia surpreendentes utilizando tecnologia moderna.

 

Desempenho 9 – Embora falte fôlego nas velocidades impublicáveis, no uso civil é muito prazeroso com respostas imediatas a qualquer momento. Usamos a maior parte do tempo na configuração “Eco” e não sentimos falta de performance em momento algum.

 

Câmbio 8 – É colocar em D e esquecer, que toda a junção de potência elétrica e combustão vem suave e forte conforme a necessidade.

 

Freios 8 – Muito bons como de praxe em carros modernos.

 

Suspensão 9 – Um pouquinho mais macia seria mais de nosso gosto, mas como está é muito boa, entregando silêncio e conforto nos pisos irregulares.

 

Estabilidade 9 – Surpreendente, o carro anda em trilhos mesmo com o peso elevado e tração dianteira.

 

Segurança passiva 9 – Todos os equipamentos necessários com a vantagem da excelente segurança ativa devido ao comportamento dinâmico.

 

Custo-benefício 4 – O benefício é muito, porém o custo é mais ainda. Com o Corolla híbrido posicionado a cerca de 50-60 mil a menos, não tem como justificar o Civic, que é melhor mas não tanto.

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