Meu primeiro carro híbrido
Como é dirigir um carro híbrido pela primeira vez?
Apostamos que muitos estão se fazendo esta pergunta ao considerarem trocar o seu carro e analisar as diversas opções híbridas (e elétricas) disponíveis tanto novas quanto usadas.
Mas
o que um motorista acostumado com carros a combustão pode esperar?
Ficamos estas semanas com um Honda Civic Hybrid e podemos passar essa impressão em primeira mão. Oportunamente faremos também o teste do carro no formato já costumeiro do blog. Só aqui você lê oportunamente e costumeiro na mesma frase, quão satisfatório é sair da escrita de estagiários e inteligências artificiais.
O primeiro impacto é ao apertar o botão de partida e não ouvir o familiar barulho do motor de arranque levando um motor a combustão à vida. Você aperta o botão e o silêncio permanece. A reação imediata é buscar algum sinal de que o carro está realmente ligado. Alguns emitem um leve zunido. No caso do Honda, o que nos avisou foi o painel que imediatamente acendeu e, dentre os mostradores, estava a indicação “ready” em verde. Em alguns momentos o motor a combustão acorda junto, dependendo da carga da bateria e dos acessórios que estiverem ligados, como o ar-condicionado por exemplo. Não tem como saber, ao menos nesse Honda, se o motor a combustão vai ligar ou não na partida.
Outra mudança de comportamento é não esperar alguns segundos a rotação do motor baixar antes de sair, prática recomendada em carros a combustão. Uma vez com o motor elétrico ligado, é só sair. Se o motor a combustão ligar junto, não tem como saber dessa queda de rotação a não ser escutando, pois no painel não há contagiros no modo Eco.
Se você for bem sensível, dá pra sentir o carro querendo andar para frente (creeping) no momento que engata o D no câmbio. Isso deve variar de carro para carro – no Civic testado é bem leve.
Com o D engatado, chegou a hora de colocar o carro em movimento. Se você tem uma preocupação que o carro tenha um desempenho muito elevado com pouca pressão de pedal, pois afinal o motor elétrico entrega torque máximo de forma instantânea, informamos que a calibração eletrônica deixa tudo bastante tranquilo. O acelerador se comporta de forma gradual e com pouca pressão de pedal o carro começa a andar para frente em baixa velocidade, igualzinho um carro a combustão com câmbio automático. As manobras em garagens são feitas nem tranquilamente sem sustos e com bom comportamento do pedal.
Uma vez conduzindo, a central eletrônica monitora o uso de bateria e aciona o motor a combustão quando necessário. Rodando com o Civic no modo Eco, notamos a presença do motor a combustão quando se demanda mais de 20% de potência (há um mostrados no lugar do conta-giros que mostra a potência demandada e disponível, como nos Rolls Royce) ou quando a carga da bateria está inferior a 20%, que monitoramos num display de carga que ocupa o lugar do termômetro do líquido de arrefecimento de um motor a combustão.
A partida do motor a combustão nessas situações é imediata e chama a atenção como a central eletrônica busca ligá-lo o mínimo possível. Era comum acionarmos o acelerador após passar uma valeta, o motor a combustão ligar, e ao soltarmos o pedal ainda no mesmo quarteirão o motor já desligou. É coisa de 5 segundos ligado. Honestamente ficamos preocupados se dá pra dispor de um motor a combustão dessa forma, ligando e desligando com tanta frequência, e como fica temperatura e viscosidade do óleo, arrefecimento e demais componentes? Seria mais do nosso gosto manter o motor ligado por um tempo maior de forma a carregar mais a bateria e aí deixá-lo desligado enquanto essa carga é consumida, a não ser em caso de grande demanda de potência.
O arranque do carro híbrido, com o torque alto e instantâneo do motor elétrico, é apaixonante. Há uma resposta imediata ao pedal e o carro começa o movimento de forma decidida e eficiente. Dá pra entender porque os americanos insistiram por tanto tempo, e de certa forma ainda o fazem, em motores de grande deslocamento e câmbio automático: o empuxo na saída é impressionante. A solução elétrica a nosso ver resolve um problema intrínseco do motor downsized que é a falta de torque imediato, aquele logo na marcha lente. Já falamos isso no teste do Kia Stonic. No Civic que é um híbrido de verdade a sensação é ainda melhor.
No Civic o motorista acompanha tudo por um display no cluster ou no multimídia, que mostra se está gastando ou regenerando energia, quem traciona as rodas e se o motor está ligado ou não. Muito interessante. No modo Eco imediatamente o motorista é levado a uma gamificação de usar o carro no modo elétrico o maior tempo possível, o que torna divertido e agradável andar devagar ou no anda e para da cidade.
Isso leva a marcas de consumo impressionantes. Em trânsito muito pesado, com congestionamentos frequentes e trajetos curtos dentro de bairro, chegamos a 17 km/l. O tanque, mesmo pequeno com 40 litros de capacidade, parece não ter fim. Na estrada o consumo é evidentemente maior e o carro se comporta praticamente como um carro convencional a combustão, o que é bom.
Outro senão que tínhamos era sobre o peso excessivo do carro. Não dirigimos esportivamente para opinar, como não fará a maioria dos donos de híbridos. Em arranque, aceleração e estrada, não se nota – o torque elevado do motor elétrico resolve isso com facilidade.
Não poderemos opinar ainda sobre manutenção ou revenda, isso só com donos.
Vale a pena? Nós ficamos constantemente pensando em um comentário de um amigo que disse: “Híbrido é o pior dos mundos. Você tem a complexidade da combustão e do elétrico no mesmo carro”. Faz sentido. Por outro lado, nos parece muito desagradável, pelo menos nesse momento, um carro 100% elétrico como faz-tudo da casa. Em uso urbano, faz muito sentido. Porém na estrada a preocupação com alcance e com carregamento em postos incomoda. São muitos os relatos de estações de carregamento quebradas, ou cujo conector não serve no carro, e de vagas ocupadas por horas a fio com carros que já carregaram. Não queremos essa ansiedade ao perceber que a carga está acabando. Se o alcance permite você chegar ao seu destino e carregar lá sem estresse, aí sim.
Então vai muito do seu perfil de uso. Se revenda e manutenção não são grandes preocupações, e um 100% elétrico não lhe apraz, vá em frente. Nós ainda ficaríamos com um carro totalmente a combustão para viagens e um elétrico para deslocamentos urbanos.
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