Teste: Jeep Commander Overland T270
Alguns
especialistas lamentam a desindustrialização do Brasil, e no campo dos automóveis
isso se reflete em lamentos sobre não produzirmos mais grandes sedãs e estarmos
limitados a pequenos compactos e SUVs de entrada. O Jeep Commander discorda. É
um carro refinado e de classe mundial produzido aqui mesmo, em Goiana, Pernambuco.
Não
vamos entrar no mérito da desindustrialização de forma geral (que é verdadeira
e problemática) e também das outras marcas que têm realmente preferido importar
os veículos de topo. Mas vamos também devagar com a síndrome de vira-lata, isso
de sempre se orgulhar em falar que o Brasil não presta, não sabemos de onde vem
essa esquisitice.
O
Commander é um veículo de classe mundial, mas não é um carro mundial. É um
projeto da Stellantis para mercados emergentes como Brasil e Índia, que recebem
o Compass e os modelos produzidos na plataforma GSW (Global Small Wide), porém para
os quais o modelo seguinte na gama da Jeep, o Cherokee, ficaria muito caro ou inviável.
Na Índia o modelo não virou, e o Brasil representa 85% das vendas do Commander.
Claro
que seria melhor um Cherokee do que um Commander, mas dá pra entender
racionalmente que um carro de outra plataforma custaria mais. Outro ponto a
favor é que o Commander não parece ser um puxadinho, mas um carro bem projetado
e desenhado – méritos também para a GSW. Claro que alguém que migre de um
Compass para um Commander vai ver muitos itens em comum, mas pensando na
concorrência é um carro que apresenta predicados dinâmicos, de acabamento e de
equipamentos bastante superiores. E vale ressaltar que se isso é válido para o
Commander, é ainda mais válido para o Compass, que se torna sensivelmente
superior aos carros da sua categoria.
O
design do Commander parte de uma premissa complicada, que é colocar 7 lugares
num veículo grande partindo de uma plataforma menor. Já vimos muita gente se
atrapalhar nisso. Mas aqui os designers foram muito felizes, com um bom
trabalho no ângulo mais crítico nesse tipo de carro que é o ¾ de traseira e o
enorme vidro após a coluna C. E realmente se empenharam na frente, que é
familiar Jeep mas não é igual ao Compass, e a traseira bastante feliz, com um
ar premium especialmente na régua metalizada que une as lanternas e estas próprias,
bastante afiladas, chegando ao ponto da luz de seta ser muito discreta para o
porte do carro. O design das rodas dessa versão é igualmente bonito, e
contrasta muito com as rodas simples da versão de entrada Longitude.
Se
o design externo agrada, o interior é realmente de dar tapa na cara, e enquanto
fabricantes como VW e GM competem para ver quem faz o interior mais vergonhoso,
a Jeep chega com tudo e mostra como é possível executar um acabamento primoroso
em carros de grande volume. Os plásticos do painel e das portas são macios, e o
painel traz um revestimento em suede, incrível ver isso num carro de alta
produção. O couro dos bancos é macio e agradável ao toque, com costuras em
diagonal criando losangos muito elegantes. Na versão Overland o interior é em
marrom, a nosso ver muito chique e que combina com uma faixa metalizada no painel
em bronze, outro detalhe de acabamento sensacional. Atrás já vemos plásticos duros
nas portas e no revestimento do porta-malas, mas a sensação geral é realmente de
um carro superior. Alguns questionam a qualidade da montagem, mas no carro
avaliado estava tudo bem encaixado e sem fazer barulho.
Em
termos de espaço, o entreeixos de 2,79m pode à primeira vista parecer não ser suficiente,
considerando que o Corolla tem 2,70m e um Audi A4 que é um sedã médio tem 2,82m.
Mas a Jeep foi inteligente com o tamanho dos bancos e altura da cabine, para
uma boa sensação de amplitude à frente e nos bancos do meio, que podem ser
ajustados em 14 cm mais à frente ou atrás. É importante lembrar que o Commander
é também mais largo que o Compass em cerca de 4 cm, inclusive nas bitolas dianteira
e traseira, o que claramente se reflete no espaço interno. Mesmo assim, o banco
central parece estreito: se os ocupantes forem três adultos haverá roçamento de
ombros.
Os
dois bancos da terceira fileira possuem amenidades como porta-copos, entrada
USB e o próprio belo revestimento, porém é impossível disfarçar a falta de
espaço. Nem tanto longitudinalmente, mas sim para as pernas e pés: este espaço
é justamente onde está o eixo traseiro, então a sensação de sentar ali é como a
de sentar num meio-fio de calçada: seria bom se os pés ficassem mais para
baixo. Para crianças faz sentido (lembrando que ali não existe encaixe Isofix
para cadeirinha, o recomendado é colocar cadeirinha no banco de trás), porém
para adultos só em pequenos trajetos mesmo. O porta-malas comporta pouco mais
de 200 litros com a terceira fileira de bancos, o que aumenta para 660 com estes
rebatidos em encaixes dedicados. Isso dá bastante flexibilidade na priorização
entre cargas ou passageiros, trajetos urbanos ou longos, sem dúvida um dos
maiores atrativos de um carro com 7 lugares.
A
lista de equipamentos é extremamente longa, copiamos do site da Jeep:
Abertura
eletrônica do porta-malas com sensor de presença
Banco
elétrico para o passageiro
Bancos
Premium em couro e Suede na cor marrom
Central
Multimídia de 10,1" com Adventure Intelligence Plus com Alexa in vehicle
Pintura
das partes plásticas na cor da carroceria
Rodas
de liga leve de 19" e pneus 235/50
Sistema
de som Premium Harman-Kardon de 450W (9 alto-falantes + subwoofer) e tecnologia
Fresh Air
Teto
Solar Elétrico e Panorâmico Command View
Central
Multimídia de 10,1"
MODEL
YEAR 2024
SERVIÇOS
CONECTADOS
ABS
Acendimento
automático dos faróis
Ajuste
do volante em altura e profundidade
Alarme
Alertas
de limite de velocidade e manutenção programada
Aletas
para trocas de marcha no volante (Borboletas)
Apoia-braço
central com logo Jeep 1941 e porta objetos
Apple
Carplay e Android Auto com espelhamento sem fio
Ar
condicionado dual zone e ajuste de intensidade para as fileiras traseiras
Aviso
de colisão frontal com frenagem de emergência com detecção de pedestres e
ciclistas
Aviso
de mudança de faixas
Banco
do passageiro rebatível
Banco
elétrico para o motorista (6 posições)
Bolsa
porta objetos atrás dos bancos dianteiros
Câmbio
automático de 6 marchas
Câmera
de estacionamento traseira
Chave
de presença com telecomando para abertura de portas e vidros - Keyless Enter 'n
Go
Cinto
de segurança para a terceira fileira de assentos
Cinto
traseiro central de 3 pontos
Cintos
de segurança dianteiros com ajuste de altura
Computador
de Bordo (distância, consumo médio, consumo instantâneo, autonomia, velocidade
média e tempo de percurso)
Comutação
automática de faróis
Console
central com acabamento cromado
Controle
de Estabilidade (ESC)
Controle
de Tração
Controle
eletrônico anti capotamento
Detector
de fadiga do motorista
Direção
elétrica
Encosto
de cabeça traseiro central
Estepe
de uso emergencial
Faróis
de neblina em LED
Faróis
dianteiros Full LED
Freio
de estacionamento eletrônico
Freios
a disco nas 4 rodas
Friso
cromado por toda a extensão das janelas do veículo
Ganchos
de fixação de carga no porta-malas
HSA
(Hill Start Assist)
Iluminação
do porta-malas
Indicador
de seta dinâmico
Isofix
Jeep
Healthy Cabin
Jeep
Traction Control+
Lanterna
traseira em LED
Limitador
de velocidade
Limpador
e desembaçador dos vidros traseiros
Luzes
diurnas em LED
Modo
sport
Monitoramento
de pontos cegos
Motor
T270 Turbo Flex
Painel
de instrumentos Full Digital e HD de 10,25"
Painel
frontal em Suede com acabamento cromado
Panic
break assist
Para
sol com espelhos cortesia
Pavimento
do porta malas com revestimento duplo
Piloto
automático
Piloto
automático adaptativo
Pneus
com tecnologia Seal Inside
Porta
óculos
Portas
USB nas três fileiras de assentos
Rack
do teto com acabamento cromado
Reconhecimento
de placas de trânsito
Remote
start (partida remota)
Repetidor
lateral nos retrovisores
Retrovisor
interno eletrocrômico
Retrovisores
externos com rebatimento automático
Retrovisores
externos elétricos
Sensor
de chuva
Sensores
de estacionamento dianteiro e traseiro
Sete
airbags (Frontais, laterais, de cortina e para os joelhos do motorista)
Sistema
Auto Hold
Sistema
de estacionamento semiautônomo (Park Assist)
Sistema
de monitoramento da pressão dos pneus
Sistema
de navegação GPS
Sistema
Start&Stop (desligamento/acionamento automático do motor)
Tampa
de cobertura do porta-malas
Tapetes
dianteiros e traseiros em carpete
Teto
pintado em preto
Travas
elétricas nas portas e porta malas (travamento automático a 20km/h, trava de
tampa do combustível, indicador de portas abertas)
USB
tipo A+C no console traseiro
USB
Tipo C
Válvula
antirefluxo de combustível
Vidros
elétricos nas 4 portas com one touch
Volante
com acabamento em couro
Wireless
Charger (Carregador do Celular por Indução)
2ª
fileira de assentos reclináveis e com deslocamento longitudinal de 14cm
3ª
fileira de assentos reclináveis
Trata-se
de um dos carros mais completos à venda no país e com equipamentos que não se
encontram em importados com o dobro do preço.
Para
o motorista, a posição de dirigir é alta como se espera de um SUV, porém
amplamente regulável eletricamente. O ajuste de altura e profundidade do
volante é também bem amplo e com isso conseguimos boa acomodação. A
visibilidade é um pouco prejudicada na traseira pelo próprio tamanho do carro.
O volante é de bom couro, porém grosso em demasia, como aliás é mania da Jeep talvez
para passar uma impressão extra de robustez. Fica no limite do desconfortável.
O
cluster é totalmente digital e configurável, e a nosso ver o principal ponto negativo
do interior do Commander e talvez até do Compass. Talvez a melhor explicação
seja chamá-lo de cluster de 1ª geração. Da mesma maneira que as telas centrais
dos clusters avançaram de monocromática de baixa resolução para coloridas, hoje
existem clusters digitais de altíssima resolução e ampla capacidade de
configuração, sendo o melhor exemplo nacional o da VW. O da Jeep é rico em
informações: existe uma tela com velocímetro e conta-giros analógicos, com um
repetidor digital de velocidade ao centro. Os cantos podem mostrar informações
configuráveis, como temperatura ou hora, e existe uma outra tela com
mostradores “analógicos” menores e amplo espaço no meio para mais detalhes,
inclusive algo que gostamos bastante que são as informações de temperatura de
óleo do motor, do câmbio, voltagem da bateria. Então ela não é ruim no conceito,
pois traz muitas informações e boa possibilidade de configurações, mas por
algum motivo a resolução é baixa. Vai lá no YouTube, assiste a um vídeo em
1080p e depois coloca em 360p: essa é a tela do Commander. Uma pena em algo tão
visível e à frente do motorista a Jeep não ter investido numa tela melhor,
especialmente por ser um simples problema de execução e não de conceito. A Jeep
diz que a tela é em HD, mas está mais para Horrible Definition do que High
Definition.
Empurrando
o Commander está o onipresente 1.3 MultiAir da Stellantis, um motor de altíssima
tecnologia, porém bastante criticado pelo elevado consumo de óleo nas quilometragens
iniciais, e uma subsequente natural preocupação com sua durabilidade a longo
prazo. Corre à boca miúda a história que a Jeep recalibrou a central eletrônica
desses motores, tanto nos carros já rodando cujos donos reclamaram do problema,
quanto nos novos, e isso consistiu numa limitação de giro, tornando o motor
menos potente e também menos suscetível a esse problema. Não sabemos a verdade,
mas sabemos que se o motor tiver um problema crônico será muito ruim para a
Stellantis que o utiliza em diversos modelos.
O
T270 é um quatro cilindros de comando simples com variador no escape e MultiAir
na admissão, injeção direta, turbo, flex que gera 185 cv com etanol a 5.750 rpm
e 27,5 m.kgf de torque a 1.750 rpm, números de motor V6 dos anos 2000 como a Tucson.
São bons números que lidam com um carro de 1.685 kg (que não achamos pesado
pelo porte e equipamentos do Commander, mas que mesmo assim estão lá), levando
a uma aceleração de 0 a 100 km/h em torno de 10s. Fica claro que a proposta do
Commander não é desempenho e que em alguns momentos a condução ficará
comprometida, especialmente em baixas rotações antes da entrada do turbo, embora
o câmbio epicícilo de 6 marchas faça uso generoso do conversor de torque para
ajudar nesta situação. É errado esperar grande desempenho do Commander flex, ao
menos enquanto não estrear o motor de 272 cv da Rampage (não entendemos porque
isso não aconteceu para o ano-modelo 2024, algum pau deu).
Aqui
também fica clara a oportunidade para uma eletrificação no Commander: um motor
elétrico que ajudasse em baixas rotações, como o testado no Kia Stonic,
ajudaria bastante com essa inércia. Ainda mais que muitos outros SUVs na mesma
faixa de preço oferecem opções híbridas como o Tiggo 8 ou mesmo totalmente
elétricas como o GWM Haval.
A
suspensão é McPherson na frente e atrás, com uma calibração que tenta conciliar
maciez de rodagem com o alto peso e altura do carro e o baixo perfil dos pneus.
O resultado é satisfatório, sabendo que não dá pra tirar 10 em tudo. Nós
tranquilamente adotaríamos uma roda de 17” com um pneu borrachudo para isolar o
piso, mas brasileiro gosta de mostrar rodão pro vizinho.
Dirigir
o Commander é muito agradável. A sensações são de carro de alta categoria,
elevado nível de acabamento e equipamentos, amplo espaço, boa visibilidade de
frente e lateral – a traseira é prejudicada pelo simples tamanho do carro. Claro
que o motor não é uma usina de força, mas empurra com gosto e é adequado a uma
condução civilizada que é o que o carro pede.
Não
é um carro barato, e a versão Overland flex supera os 280 mil reais. Esse valor
permite dar entrada numa BMW 320 e parcelar os 80 mil restantes, carro com outra
proposta completamente. Existem ainda opções elétricas, com design arrojado,
desempenho exuberante porém manutenção e revenda duvidosas. Mesmo assim, o
Commander defende seu território muito bem com a proposta de amplo espaço, lista
de equipamentos, acabamento de carro superior, manutenção viável – por compartilhar
muito do Compass. E dá muito orgulho de saber que é fabricado no Brasil.
Estilo
8 – Bonito e elegante, poderia ter um pouco menos de cara de Jeep
principalmente na frente.
Imagem
– Família, não tem como.
Acabamento
10 – Suede, costuras em diagonal, plásticos macios, dá vontade de pegar o
pessoal de Color & Trim da VW e GM e bater com um bambu.
Posição
de dirigir 9 – Amplos ajustes elétricos, volante também, posição alta como todo
SUV.
Instrumentos
5 – Nota muito difícil, pois a vontade é dar 10 pela multidão de informações
apresentadas, e dar zero pela tela de baixa resolução.
Itens
de conveniência 10 – Tem tudo, deve fazer até pipoca. Para achar pelo em ovo,
gostaríamos de ventilação nos bancos.
Espaço
interno 6 – Grande atrativo do carro, e a Jeep não desperdiça com bancos ou
forros de portas maiores do que o necessário.
Porta-malas
9 – Adequado com os 7 lugares e cavernoso com os 5.
Motor
6 – O motor em si merece nota maior, pesam contra as dúvidas sobre durabilidade
de longo prazo e com certeza um 2.0 aqui seria melhor.
Desempenho
4 – Embora suficiente, não é exuberante, nem poderia ser.
Câmbio
8 – Um excelente estágio de maturidade e calibração. Trocas manuais poderiam
ser mais rápidas.
Freios
8 – Disco nas 4 rodas, boa capacidade de frenagem, importante num carro pesado
e que leva 7 passageiros.
Suspensão
7 – Tanta fazer o impossível e quase consegue, conciliando conforto de rodagem
e aderência num carro alto e pesado.
Estabilidade
6 – Importa?
Segurança
passiva 7 – Sete airbags, plataforma reforçada, todos os auxílios à condução,
mas sempre colocamos em xeque a segurança dos ocupantes da terceira fileira.
Custo-benefício
9 – É caro, mas entrega o que promete em espaço e vai além em equipamentos e
acabamento. Mesmo com o pênalti do desempenho, faz muito sentido e segue na
liderança do segmento.
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