Como salvar a Quatro Rodas
Compramos a Quatro Rodas dessa
semana. A capa são os elétricos lançados no Salão do Automóvel a preço de ouro:
Leaf, Zoe e Bolt. Tem uma matéria curta porém boa de SUVs compactos de entrada,
um teste do Audi Q7 elétrico cuja bateria deixou o repórter na mão, um
maravilhoso Maverick LDO e ainda a parte do teste de 60 mil km que honestamente
deveria ter mais espaço. Uma boa edição.
Porém isso não se refletiu nos anunciantes.
Nissan e Chevrolet têm anúncios de duas páginas promovendo Frontier e Cruze. A
Michelin ocupa a contracapa. Dentro da matéria sobre elétricos, anúncios da Volvo
e Audi. E só. CINCO anúncios na revista inteira. Não tem condição de
sobrevivência.
Por muitos anos criticamos a Quatro
Rodas pelo perfil submisso. Era uma época em que o Peugeot 206,5 era elogiado,
assim como a “sábia decisão” da Peugeot de oferecer um carro requentado para o
brasileiro. Realmente faltava visão para os editores.
Hoje a revista voltou a ser
interessante. Veja o exemplo: a Audi convidou o repórter para ir até Abu Dhabi
participar do lançamento mundial de um SUV híbrido. O repórter foi, tudo pago.
A Audi pagou ainda um anúncio. E o cara escreveu que o carro ficou sem bateria
no final do teste. Vemos aí uma boa dose de independência editorial.
Porém só isso não basta. Para quem
curte carro, a QR é muito superficial. O comparativo dos SUVs guardou UMA
COLUNA de texto para falar dos carros. Quem quiser se informar de verdade não
vai se satisfazer com isso e vai partir para fontes como Best Cars, FlatOut
(que deveria ensinar o Trump como se faz um muro, nunca vimos um Paywall tão
restrito) ou este blog mesmo. Quem não quiser se informar de verdade não vai
nem comprar a revista, vai comprar o carro de sua preferência (o que mais
impressionar o vizinho) e pronto.
Então para quem é a Quatro Rodas
hoje? Provavelmente só saudosistas que lembram da época em que a revista era
uma das poucas fontes de informação sobre carros – e não necessariamente a
melhor, com a concorrência da Motor 3 e da Car and Driver por exemplo. Nem as
fotos salvam: são lindas, mas pequenas. Queremos ver estourado na tela para
apreciar os detalhes.
Se este modelo continuar, a revista
estará fadada à irrelevância e talvez até a um melancólico e triste fechamento.
Nossa sugestão seria abraçar a comunidade car nerd: textos longos, detalhados,
podcasts, belas fotos, integração total entre impresso e virtual, para ser a
revista dos entusiastas e ter uma circulação reduzida porém garantida,
aproveitando as vantagens competitivas que a revista tem frente aos sites
especializados: realiza os próprios testes e tem bastante crédito junto às
fabricantes.
Uma vantagem eles já têm: se livraram
dos anacrônicos.
Comentários