Salão do Automóvel SP 2016

Hoje estão pipocando nos sites especializados os reportes das apresentações das fabricantes nos dias de imprensa do Salão do Automóvel, no caso hoje e amanhã. É muito legal acompanhar a cobertura em tempo real, e somando os textos aos vídeos disponibilizados a sensação é quase como estar lá. E sabembos do que estamos falando, pois estivemos lá em 2010.

Infelizmente, para quem acompanha esses dias in loco, ir no salão quando ele está aberto ao público é mais ou menos como provar uma picanha e depois comer acém. Perde completamente a graça. Nas sessões de imprensa os carros estão disponíveis, abertos, com fácil acesso (exceção feita aos superesportivos que estão sempre trancados), a circulação é tranquila, aliás é como o Salão deveria ser. Aí abre pro público e vem aquela enxurrada de gente, trocentas pessoas querendo entrar nos poucos carros abertos, a maioria dos carros fica fechada, e a coisa toda se torna uma experiência bastante desagradável. Nós acabamos preferindo ir até as concessionárias para ver os carros com mais tranquilidade.

Outra decepção é com os conceitos. A imprensa tem divulgado esperançosa o Gol GT da Volks, como uma encarnação de um futuro Gol GTI. Está lindo o carro, porém qual a chance de passar do estágio de Conceito? Já vimos coisas muito interessantes no Salão, como o GPix da GM, o Uno conversível da Fiat, o próprio jipinho Taigun na VW e fica só no conceito mesmo. Aí dá uma certa preguiça dessas fabricantes que poderiam oferecer versões e modelos bem mais diversos e interessantes, mas na hora do vamos ver se acovardam e oferecem o mesmo carro nas cores prata e preto “esse pacote de opcionais demora 120 dias, não temos previsão e não encomendamos”.

A imprensa especializada vive um certo conto de fadas, pois se num dia estão testando um Uno, no próximo estrão com um Jaguar, depois uma BMW, e aí de certa forma perde-se um pouco o contato com a realidade do brasileiro e especialmente do brasileiro entusiasta, que não tem rios de dinheiro para ter esses carros. O jornalista mata sua vontade de dirigir estas máquinas pois tem acesso às frotas de imprensa, e na maioria das vezes não possui um carro próprio pois está sempre com um de testes – e ainda por cima se precisar fazer uma mudança, por exemplo, pega uma picape emprestada. Daí os testes de “resolvemos revisitar a Nissan Frontier que apesar de não ter mudanças desde 1934 foi submetida a mais uma avaliação desta vez na versão Prata Prata em contraste com a Prata um pouco menos Prata que avaliamos há seiscentos anos”.

Não é assim com o entusiasta que só pode ter o seu carro. Quando a Ford aumenta o preço da Edge de 150 para 240 mil, significa que uma parcela importante das pessoas não poderá mais ter esse carro. Idem para o Camaro, de 180 para 230 mil – e quase 300 mil na “launching edition”. E isso falando de carros que já são inacessíveis para a maioria das pessoas. Isso deve explicar um pouco porque muitos jornalistas são apáticos a esses aumentos de preço. Ainda bem que muitos mantém essa consciência.

Voltando a falar do Salão, o diferencial para esse ano está no oferecimento de test drives em diversas marcas, aí sim uma chance de pelo menos por um pouco de tempo guiar um dos carros de sonho. Esperamos que algum dos veículos cubra essa parte para vermos se faz sentido mesmo ou se é mais uma fila absurda para pouca diversão.

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