Teste: Toyota Corolla GLi Upper 1.8
Ah, o Corolla. Motorização sem
emoção, sem complicação, sem nada. Arroz, feijão, bife e salada. Empatar em
zero a zero. Chupar bala com papel.
Até a Toyota tem ficado incomodada
com esses comentários. Mas como mudar a imagem de um carro quando é justamente
essa imagem um fortíssimo argumento de vendas, que torna o Corolla um dos carros
mais vendidos do mundo?
Aliás, é interessante notar como o
Civic, mesmo nas gerações mais sem graça, sempre aparece numa versão tunada,
apimentada, enquanto o Corolla passa ileso pelos fãs de JDM.
A julgar pela geração atual, a
estratégia dos japoneses foi atualizar o design, e não mexer no resto. Quem
sabe conquistamos compradores pelo visual e não afastamos os fãs ao manter a
parte mecânica intacta.
No visual, acertaram. Não há como
achar feio. Poderia ser mais ousado por exemplo na visão lateral, ou ter um
pouco da suavidade nos traços que caracterizam a bela escola italiana, mas do
jeito que está ficou muito bom. É contemporâneo, distinto, até classudo, foge
da discrição excessiva do Jetta e da ousadia excessiva do Elantra. Quem ver o
Corolla quadrado terá dificuldade em imaginar que é o mesmo carro...
Agora, não é a última palavra em
design como a propaganda quer convencer. A última palavra em design de sedãs
chama-se Jaguar XE.
Por dentro, continua um habitáculo
muito agradável. Realmente é necessário reconhecer que Toyota e Honda têm sido
magníficas em termos de cabines agradáveis em seus sedãs. Focus e Jetta, por
exemplo, sofrem com os interiores muito escuros (exceto o Jetta com couro bege,
claro) e os plásticos duros nas portas. O Corolla não: é muito agradável a
combinação de cores e texturas. Os bancos e detalhes em cinza claro formam
nossa combinação favorita juntamente com o preto, para um interior agradável,
arejado e diferente. A qualidade do couro é notável, e o acabamento usa plásticos
de boa qualidade e bem encaixados.
De fato, como notado em muitos
testes, o painel ficou volumoso. É pior nas fotos do que ao vivo, mas de fato
chama a atenção o tamanho, embora não aparente roubar espaço interno. É
estranho a essa altura do campeonato olhar para um console central sem tela,
com o visor antiquado do rádio e os comandos manuais do ar-condicionado. O GLi
pode receber a excelente central multimídia das versões superiores do Corolla
como equipamento em concessionária, e honestamente acreditamos que vale os
cerca de 4 mil adicionais de investimento.
O cluster é simpático, os aros
cromados dos mostradores emprestando alguma elegância a um conjunto simples,
com luzes espia para temperatura e uma micro tela digital monocromática fazendo
as vezes de hodômetro e computador de bordo. O volante é forrado em couro e tem
boa pega.
A posição de dirigir é agradável, com
bons ajustes do volante e do banco em altura e profundidade. Não é esportiva,
longe disso, mas é ergonômica.
A lista de equipamentos é aquela
secura comum aos carros japoneses de entrada. É realmente uma pena que os
consumidores precisem conviver com produtos que beiram o aviltante na relação
entre preço e equipamentos. Nota-se claramente que a Toyota oferecde um GLi
bastante despojado, e um Altis a preço estratosférico, com o objetivo de vender
bem o XEi. Não deveria ser assim: dá pra deixar o básico menos básico sem
ofender as versões superiores, bem como caprichar mais no topo de linha. Assim,
o Altis deveria ter teto solar, controle de tração e estabilidade, ajustes
elétricos dos bancos de motorista e passageiro, e inclusive um powertrain
diferenciado, que tal um motor turbo ou mesmo um 2.4 aspro com 180 cv para dar
uma alegrada na turma? E o XEi deveria incorporar piloto automático e uma
central multimídia no mínimo.
Como está, o GLi Upper vem com
direção elétrica, ar manual, computador de bordo, trio elétrico, som com Mp3,
USB e Bluetooth, bancos em couro, volante multifuncional (colocar volante
multifuncional na lista de equipamentos nos faz lembrar as “supercalotas” da
Volks...), cinco airbags (dianteiros, laterais e joelhos para o motorista,
ponto para a Toyota aqui), e o ABS obrigatório.
Ficam de fora: retrovisor
fotocrômico, rebatimento elétrico dos espelhos externos, piloto automático,
programação Sport do câmbio, ILUMINAÇÃO DOS ESPELHOS DOS PÁRA-SÓIS, sensor de
luz, faróis de neblina, comando um toque para todos os vidros, lanternas
traseiras de LED, e isso comparando somente com a versão superior. Vale lembrar
que itens como faróis de xenônio somente do Altis, e coisas como controle de
tração e estabilidade nenhum tem.
E isso pelo simplório valor de R$ 80
mil, que é bem caro.
Dito isto, o GLi traz as mesmas
qualidades intrínsecas a qualquer Corolla, começando pelo amplo espaço interno
aproveitável por quatro pessoas com conforto e por cinco sem grandes apertos, o
porta-malas amplo com 470 litros, e o acerto mecânico.
O GLi deixa de lado o 2.0 das outras
versões adotando o 1.8 16v que foi o único motor da geração anterior por bons
anos, e que desde o princípio destacou-se pelos bons números de potência e
torque aliados à economia de combustível e suavidade de funcionamento.
Trocando em miúdos, o 2.0 não faz
falta, ainda mais se agregado a um moderno CVT como este. O Corolla GLi Upper
responde rápido aos comendos do acelerador, desempenha com vontade, e o CVT
explora bem o motor, chamando giros elevados quando é necessário. Honestamente,
difícil sentir falta do motor maior, só mesmo na hora de se gabar pro vizinho.
São 144 cv a 6 mil rpm com 18,6 m.kgf
de torque, número mais que suficiente para os 1.285 kg de peso – é um dos sedãs
médios mais leves, com 150 kg a menos que o pesadão Focus por exemplo. O carro
flui muito bem, sem esforço, e ainda entrega ótimas médias de consumo.
O CVT nesta versão não tem o paddle
shift nem o botão Sport, mas conta com a simulação de sete macrhas que podem
ser trocadas pela alavanca. Como em todo CVT, é uma simulação mal feita, muito
suave para ser considerada uma mudança de marchas de verdade, como num manual
ou DSG. Negócio é esquecer em D. Estamos falando de um Corolla.
A suspensão usa conceitos
convencionais, com McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira, e aqui
aplaudimos a Toyota de pé por oefoferecer dos poucos ajustes confortáveis do
mercado. Corolla não foi feito para encarar acessos de pontes a 80 km/h – e não
duvidamos que faça, pois ele não é uma F-1000 –, e sim para rodar suavemente na
cidade, que é a vasta maioria do tempo. E nisso o GLi premia seus ocupantes com
conforto e isolamento do piso lamentável das cidades brasileiras.
Um conhecido nosso comprou um Golf
GTI. Está felizão. Mas confidenciou uma frustração bastante comum entre os
donos destes carros: “não tenho onde acelerar.” Sabemos que a realidade muda
muito em todo o Brasil, e que existem privilegiados que moram em cidades de bom
asfalto e poucos radares, ou com utilização cotidiana de estradas nas mesmas
condições. Esse dono de GTI mora em São Paulo e quando pega a estrada
dificilmente é sozinho, e aí não consegue acelerar, além das próprias estradas
serem cheias de carros.
Então na maior parte do tempo ele
sofre com a suspensão dura, sem usar a potência do carro, parado no trânsito ou
andando dentro dos limites de velocidade bicicletais implantados na cidade. Não
estaria ele melhor de Corolla? Um carro macio, de interior agradável, e que não
dá vontade de acelerar, portanto não gera frustração.
Claro que não. É UM GOLF GTI PORRA.
Mas entendemos muito bem quem opta pelo Corolla.
Estilo
9 – Ficou muito bonito. E pouco se diferencial a GLi da Altis, para sorte dos
primeiros e azar dos últimos.
Imagem
– Corolla né. Tem a jovialidade de uma Pharmácia.
Acabamento
8 – Muito bem-feito, dá show em vários dos sedãs médios. A Toyota podia não
economizar no revestimento das maçanetas e no acionamento da portinhola do
tanque e do porta-malas.
Posição
de dirigir 9 – Confortável, alinhada, não cansa.
Instrumentos
6 – O painel é bonito, mas não esconde a ausência do marcados de temperatura e
o computador de bordo dos anos 80.
Itens
de conveniência 4 – Até cobre o básico, mas obriga o consumidor a abrir mão de
coisas que não deveria nessa faixa de preço.
Espaço
interno 9 – Ponto forte, leva quatro adultos com conforto e dignidade.
Porta-malas
9 – Amplo, revestido, fácil acesso.
Motor
9 – Em ótimo estágio de desenvolvimento, conciliando potência e economia. O
ronco é genérico.
Desempenho
8 – Anda muito bem, ao combinar bom motor com um CVT que sabe explorar potência
e peso contido.
Câmbio
8 – Não gostamos de CVT. Isto posto, é dos melhores desta configuração, e até
se esforça ao trazer comando manual.
Freios
9 – Discos nas quatro rodas, ABS, boa modulação do pedal.
Suspensão
7 – O Corolla está ficando sozinho na categoria com esse eixo de torção: Focus,
Jetta e Civic já são multilink. Gostamos da calibração macia.
Estabilidade
8 – Não é feito para isso, mas dificilmente dará sustos no motorista.
Segurança
passiva 10 – Merece a nota pelos cinco airbags, que a indústria reduz a dois na
maioria das versões de entrada.
Custo-benefício
4 – Caro, muito caro. Tem seu público fiel, mas recomendamos uma olhadinha nas
ofertas da concorrência.
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