Teste: Fiat Freemont 2.4 Precision
Faz
tempo que queríamos testá-la no M4R. É raro, no atual cenário de preços, um
carro ser elogiado pelo custo-benefício. E esta opinião era tão unânime no caso
da Freemont que aguçou nossas expectativas.
A
Freemont é uma Dodge Journey com símbolo da Fiat, possível desde que os
italianos compraram a americana, e o Brasil é o único mercado no mundo no qual
os dois convivem. A segmentação ficou clara: Journey na faixa mais elevada de
preço, ajudada pelo magnífico V6 Pentastar de 280+ cv, e a Freemont mais acessível com um 2.4
moderno de 172 cv a 6000 rpm e 22,4 m.kgf a 4500 rpm.
Não
que seja um carro barato: a Fiat pede cerca de R$ 90.000 pela versão de entrada
Emotion e R$ 10 mil a mais pela topo de linha avaliada, Precision. A diferença
é paga pelos air bags laterais e de cortina, central multimídia com tela de 8,4
polegadas, câmera de ré, regulagens elétricas para o banco do motorista, ar
trizona (inclui a segunda fileira de bancos) e dois assentos extras. Vale a
diferença – até porque dois airbags em carro familiar é muito pouco.
Mas
é um dos pacotes mais completos do mercado brasileiro abaixo de R$ 100 mil em
se tratando de equipamentos. De cabeça, não conseguimos pensar em nenhum
opcional que realmente faça falta na Freemont Precision – até o tapete em
carpete vem de série.
Este
pacote de equipamentos em embalado por um design que, se não é a última moda, é
sóbrio o suficiente para não parecer antigo e não entrega a idade do projeto.
Há quem prefira as curvas e ousadias do RAV4, mas a Freemont está bem situada.
Mesmo as adaptações para receber o logo Fiat foram discretas. Ajuda muito no
visual o opcional de rodas cromadas com aro 19”, embora no dia a dia mais atrapalhe do que ajude: além de endurecer o carro, tem o medo de ralar a roda na
guia.
Por
dentro é um carro muito bem-feito, surpreendente até, o que corrobora a
impressão que é no México onde se monta melhor os carros no continente
americano. O acabamento é de plásticos suaves ao toque, o couro de bancos e
volante é de qualidade, botões e alavancas têm acionamento adequado e as peças
são bem encaixadas. A unidade testada estava com 9 mil km de muita ralação e
permanecia bastante silenciosa.
O
espaço para o motorista é bastante amplo, e o banco possui as dimensões
generosas comuns no mercado americano. A regulagem elétrica torna fácil
encontrar uma boa posição de dirigir, e as amplas regulagens em altura e
distância do volante são muito bem-vindas – ultimamente a moda é limitar essas
regulagens ao ponto delas se tornarem inúteis.. vai entender.
O
resultado é uma posição de dirigir muito agradável, de comando mesmo –
necessário num carro desse tamanho. Mas ainda assim senta-se mais alto do que
num carro comum.
O
cluster é bem agradável, com as quatro informações básicas feitas por
ponteiros. O velocímetro poderia ter escala maior. No centro fica o computador
de bordo numa tela de alta definição muito elegante. As medições são completas
e no padrão brasileiro.
O
console central detsa versão é dominado por uma bela tela de 8,4” sensível ao
toque que dá acesso a vários comandos. O ar-condicionado pode ser comandado por
ali ou por botões redundantes abaixo. O sistema de som tem entradas para cartão
SD, CD, USB e cabo auxiliar, além de conexão Bluetooth. Há sistema de
navegação. A tela serve ainda para a câmera de ré, útil, mas que merceia mais
talento: a imagem é distorcida nas pontas e o tracejado no chão podia se mover
junto com a trajetória do carro.
Espaço
nas duas primeiras fileiras de banco não é problema, com ampla altura e
largura. A terceira, como se pode imaginar, não é adequada a adultos por longos
trajetos; o espaço é mais limitado e é difícil encontrar onde deixar os pés.
Isto posto, é bem mais agradável do que a média dos 7 lugares, como Spin e
Doblò. E aqui vem um ponto forte da Chrysler, pioneira em minivans: a
modularidade dos bancos. Tudo é muito fácil de fazer, por meio de um sistema de
alavancas (mas é recomendável familiarizar-se com elas primeiro. Não são
intuitivas). A segunda fileira pode ser movida longitudinalmente, ampliando
espaço atrás ou na frente. O porta-malas é cavernoso com a terceira fileira
rebatida – embora um tanto raso, necessário para que os bancos se acomodassem
no assoalho – e bem pequeno com os sete lugares em uso.
Dirigir
a Freemont talvez seja o ponto mais fraco. Não é, definitivamente, um carro
para quem curte dirigir. Começa pelo tamanho; é grande mesmo, ao ponto do
motorista ficar preocupado ao dobrar esquinas – embora com o tempo acostume. O
volante é um tanto anestesiado e faz falta uma direção elétrica mais leve em
manobras. O câmbio de seis marchas cumpre o que promete. É suave na condução
normal mas está aquém da precisão necessária na tocada esportica. As trocas
manuais feitas movendo-se a alavanca para a esquerda ou direita não são
instantâneas. E tem o principal: falta motor.
Note
que faltar motor é um conceito relativo. Se você está acostumado com um carro
turbo, de bom desempenho, vai achar a Freemont lerda. Se você vem de um carro
1.0, vai achar a Freemont normal. Os números não são grande coisa: 0 a 100 em
12,9s, máxima de 190 km/h de acordo com a Fiat. Exigir desempenho da Freemont é
desagradável: o motor grita (e o ronco não é muito agradável), sobre o giro,
faz um escândalo e quando você vai ver está a 70 km/h. Note que o motor é
moderno, com comando duplo variável, gerenciamento eletrônico e uso de
alumínio. Mas o peso bastante elevado de 1.849 kg se faz sentir, e entrega o
modelo americano de fazer projetos: pouco importa o peso, enfia um motorzão que
tá tudo certo. Com certeza se fosse uma Journey este parágrafo seria bem
diferente.
A
suspensão é uma grata surpresa. De conceitos eficientes – McPherson e multilink
– a Fiat evoluiu a calibração original da Chrysler e conciliou desempenho e
conforto no nível que se espera de um carro familiar, ou seja, mais do segundo
do que do primeiro. Não que a Freemont seja instável; pelo contrário, é bem
dócil e sai amigavelmente de frente quando exigida, mas muito antes disso o
motorista já percebeu que este não é um carro para andar forte.
Não
gostamos dos freios, mas podia ser problema do carro avaliado. A ação do pedal
estava muito lenta, com demora a responder mesmo com boa pressão no pedal.
Mas são eficientes, com disco nas quatro e a sopa de letrinhas usual.
A
Freemont só não é uma opção válida para quem faz muita questão de tesão ao
volante. Todo o resto ela tem: espaçosa, confortável, equipada, bem-acabada. É
inclusive um bálsamo contra o trânsito caótico das grandes capitais: ela de
obriga a relaxar, curtir, aproveitar. Carros esportivos, que são gostosos de
acelerar e andar forte, têm cada vez menos espaço nesse cenário. Então porque
não abrir mão de vez disso e enjoy the
ride?
PS:
Não passou despercebido pelo M4R o aumento de preço da Freemont ao ser equipada
com o câmbio de 6 marchas, cerca de R$ 10 mil em ambas as versões. Hoje os
preços são menores pois há negociação possível nas concessionárias, mas mesmo
assim não precisava, dona Fiat. Podia ter ido com menos sede ao pote.
Estilo
8 – Conservadora, e por isso mesmo discreta e de fácil assimilação. Demora a
envelhecer.
Imagem
– Tem um quê de americana invocada que fica bem com homens e mulheres, mesmo os
mais jovens.
Acabamento
9 – Bons materiais, boa execução.
Posição
de dirigir 9 – Nem é tão alta assim considerando-se a proposta do carro. Amplas
regulagens.
Instrumentos
9 – Cluster tradicional é compensado pelas boas telas. A alavanca única faz-tudo
comum nos carros de origem americana incomoda.
Itens
de conveniência 10 – Difícil de ser batida – exemplo no segmento.
Espaço
interno 10 – Até mesmo na terceira fileira as coisas não são tão ruins. É
grande, por fora e por dentro.
Porta-malas
10 – Os bancos rebatíveis no assoalho mostram que é possível acomodá-los
decentemente, e não com uma cordinha como a GM fez na Spin.
Motor
8 – Um quatro cilindros 2.4 de 172 cv está plenamente inserido no contexto de
rendimento dos motores modernos. É suave e o ronco, se não agrada, também não
incomoda.
Desempenho
2 – A combinação de motor girador, câmbio automático e carro pesado não é
sinônimo de performance. Faz falta o torque em baixa.
Câmbio
9 – Na tocada suave, é irrepreensível. Na tocada esportiva, é um pouco lerdo e
as marchas poderiam ser mais próximas. Trocas manuais na alavanca pelo padrão
Mercedes: esquerda e direita.
Freios
7 – Disco nas quatro rodas com a assistência usual, mas no carro testado o
pedal estava fundo e a Freemont demorava a responder. Vale testar antes de
fechar negócio.
Suspensão
10 – Com tantos carros calibrados para autódromos, como é bom andar numa velha
e boa suspensão confortável. A Fiat diz ter mexido, mas fez muito bem de deixar
ali um gosto americano.
Estabilidade
6 – É pesada, com centro de gravidade alto, e logo sai de frente para cortar
estes ímpetos esportivos. É bem plantada no chão e sólida na tocada normal.
Segurança
passiva 8 – Tem todos os airbags necessários a um carro familiar, bem como a
fixação para cadeirinhas (no padrão LATCH americano). Nota bem menor para a versão de entrada que traz somente os air bags frontais.
Custo-benefício
9 – Não leva 10 pela ganância da Fiat em subir o preço em R$ 10 mil pela adoção
do câmbio de seis marchas. Mas mesmo assim é uma das opções mais completas na
faixa de preço, e ótimo negócio para famílias grandes.
Comentários
Monitoramento de ponto cego, nesse carro desse tamanho faz falta, item faz falta.
Se viesse com um radar igual ao do Fusion ou uma camera igual aos do Mitsubishi seria otimo