Teste: Volkswagen Jetta Highline 2.0 TSI
Quando a geração atual do Jetta apareceu no Salão do Automóvel de São Paulo em 2010, torcemos o nariz. O anterior, muito bom, seria substituído por um carro mais simples, compensando perda em acabamento com espaço interno. Não é uma troca válida para os entusiastas.
O que não sabíamos à época era a estratégia da VW de oferecer o Jetta em duas versões muito distintas. Uma, menos refinada, em substituição a Bora. Total pragmatismo: mesmo motor, mesmo câmbio, mais espaço, melhor design. Melhor que o Bora – a concorrência é outra história.
A outra versão deixou o pragmatismo de lado e trouxe um pacote surpreendente. Inspirada no Jetta GLi vendido lá fora – a versão esportiva do sedã, o equivalente ao Golf GTI, só que no Jetta – a VW montou uma versão Highline com um motor 2.0 turboalimentado de 200 cv e câmbio automatizado de dupla embreagem e seis marchas.
São poucos os carros hoje, disponíveis no Brasil, que trazem um conjunto mecânico tão moderno. Eixos de torção e câmbios automáticos de quatro marchas são pragas que assolam médios como i30, C4 e 308. Abaixo da faixa de preço do Jetta (e acima dos compactos, dos quais não se exige tanto refinamento), apenas dois modelos vêm com conjuntos mecânicos dignos de nota: o Civic, com câmbio automático de cinco marchas e suspensão multilink na traseira, e o Fusion 2.5. Notando que, câmbio de dupla embreagem, só mesmo o VW.
Convencidos pelo conteúdo, o segundo passo é olhar a embalagem. E aqui o Jetta não sobressai. Talvez ele seja o carro que melhor expressa a nova tendência de design da Volkswagen – e nem poderia ser diferente, dado que é o único carro realmente novo da marca com a cara nova. Mas esta é uma tendência que deixou todos os carros muito parecidos, e ter seu carro confundido com um Fox – ou com um Voyage quando este for reestilizado – sem dúvida não será agradável aos donos de Jetta. Não é um carro feio, longe disso, é harmonioso e de linhas fortes, mas não é um carro único. Por outro lado, não cansa fácil, como os modelos sinuosos da Hyundai, e nem é um desenho “que se esforça demais”, como o Optima.
Por dentro é um banho do jeito alemão de fazer carros. Interior sóbrio, correto, tradicional, ergonômico e ótimo para passar horas. Os comandos estão onde deveriam estar, são sólidos e oferecem a resistência correta ao acionamento. Os bancos são ótimos, oferecem amplo apoio e são de espuma densa, bem alemães. Elétricos na unidade testada, com movimento longitudinal, de altura, do encosto e lombar. A direção é ajustável em altura e profundidade.
O cluster é bonito, com iluminação permanente em branco e mostradores bem legíveis. Destaque para a amplitude de movimento dos ponteiros de temperatura e combustível, bem como a varredura do velocímetro até 80 km/h, feita de 10 em 10 km/h para fácil visualização nas velocidades mais comuns. Ao centro, um mostrador eletrônico de um computador de bordo completo e com configurador de funções do carro.
No geral, nota-se no Jetta o bom trabalho realizado no projeto do carro. Não há deslizes ou pequenos incômodos. O maior alvo de críticas é mesmo o painel das portas, que usa plástico de forma excessiva – Civic e Corolla são melhores nesse aspecto. Resta saber se este acabamento aguenta o uso prolongado: a internet registra reclamações de barulhos nesta área e no teto solar.
O espaço interno, grande trunfo do novo Jetta sobre o anterior, é de fato melhor, mas na média da concorrência. Leva dois adultos atrás com bastante conforto, e três sem muita dificuldade. Não é um Fusion nesse aspecto. O porta-malas é gigantesco, com 510 litros, e duas falhas graves: o uso de dobradiças pescoço de ganso, o que já deveria ter sido abolido da indústria, e uma tampa que é somente parcialmente forrada.
A aceleração é impressionante. O ótimo torque se combina com o câmbio de dupla embreagem e trocas imediatas para empurrrar o Jetta e dar um verdadeiro tranco no pescoço do motorista. Chega a ser inseguro acelerar o Jetta em pequenos espaços, tamanho o desempenho.
Tudo combinado com uma grande docilidade em manobras e movimentos vagarosos. O Jetta TSI é ótimo companheiro de congestionamentos, com creep adequado e mudanças de marcha imediatas mesmo com pouca pressão no acelerador.
Frear é igualmente surpreendente, pois os freios a disco nas 4 rodas com ABS e o pedal com ótima modulação seguram bem o carro.
Rodando, nota-se nitidamente o arranjo mais duro comum em carros da VW, amplificado pelas rodas aro 17 e pneus 225/45. É compreensível dado a proposta do carro e o desempenho que ele entrega, mas muitos usuários prefeririam um dia-a-dia mais macio. É aqui que a suspensão controlada eletronicamente, já comum em carros superiores em preço, pode fazer a diferença.
O Highline é vendido em versão bem completa, com ar bi-zone (sem regulagem de meio em meio grau, uma pena), sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, tela sensível ao toque para controle de várias funções do carro (poderia ter melhor resolução), som com leitor de MP3, Bluetooth e um encaixe multi-uso no porta-luvas (preferimos entrada direta de USB), controle de tração e estabilidade, alarme completo, faróis de neblina dianteiros e traseiro, sensor de chuva e luminosidade, retrovisor interno forocrômico, retrovisores externos com ajuste e rebatimento elétricos e aquecimento, Follow Me Home, piloto automático, volante em couro com comandos para o som, computador de bordo e borboletas para troca de marcha, ABS e seis air bags. Como opcionais, GPS integrado, teto solar, banco elétrico do motorista e rodas usinadas. Preços antes da redução do IPI eram ao redor de 100.000 para o completo.
É caro? É. Todo carro no Brasil é caro. Isto posto de lado, o Jetta TSI é o único com esse conjunto mecânico nessa faixa de preço. Existem opções para outros perfis: os SUVs como Sportage e ix35 para um visual mais jovial, um Fusion V6 para mais espaço e mais cilindros, e Civic EXS e Toyota Altis para quem é obrigado a comprar carros japoneses por algum motivo.
Mas nenhum, nenhum deles entrega o prazer em dirigir, o nível de desempenho e envolvimento do motorista como o Jetta TSI. Esse é pra quem gosta de dirigir.
Estilo 8 – Moderno, classudo, bonito até. Mas não vira pescoços nas ruas.
Imagem – Masculino, entre 30 e 50 anos. Se for mulher, executiva.
Acabamento 7 – Encaixes bons, materiais agradáveis – menos na porta. A porta faz feio.
Posição de dirigir 10 – Ajustes no banco, ajustes no volante, acelerador pivotado no assoalho. Pilotagem para todos os tamanhos.
Instrumentos 10 – Painel completo com iluminação constante em branco. Computador de bordo dá show.
Itens de conveniência 10 – Nenhuma falta grave. Somente aspirações a opcionais por enquanto reservados a outras categorias, como bancos com memória.
Espaço interno 8 – Leva quatro com conforto, cinco ainda bem. Espaço para cabeças é bom à frente e atrás.
Porta-malas 3 – Capacidade boa, acesso bom, mas... aquelas dobradiças são de dar nos nervos.
Motor 10 – Uau. 200 cv, quase 30 kg de torque e ainda econômico no consumo? Silencioso em baixos giros e com um ronco bem agradável acima.
Desempenho 10 – Vai ser muito difícil ficar para trás no farol. Ou na estrada. Fácil vai ser tomar multas de velocidade...
Câmbio 10 – Seis marchas, dupla embreagem, trocas instantâneas que podem ser feitas manualmente na alavanca ou em aletas atrás do volante. Difícil melhorar. Como disse um entendido: “É câmbio de Audi. Os caras não vão brincar”.
Freios 10 – Bem dimensionados para o carro e o desempenho. Ótima modulação de pedal.
Suspensão 9 – Conceito moderno, calibração dura compreensível pelo desempenho moderno, nem tão compreensível dada a qualidade do asfalto...
Estabilidade 10 – Suspensão esportiva, pneus gordos e ainda por cima controle de estabilidade. Tirar o Jetta TSI do sério é para poucos.
Segurança passiva 9 – Air bags frontais, laterais e de cortina.
Custo-benefício 7 – É caro, mas entrega. Se serve de consolo, tá cheio de carro aí custando mais de 100 mil que não entrega, em equipamentos e desempenho, o que este sedã faz.
PS: O blog estará sem novidades por cerca de 15 dias. Em breve voltamos com mais atualizações. Até lá!
Comentários
2) preço das revisões para o Jetta muito caras, e sem tabela
3)Seguro nas alturas
4) Cesta de peças de reposição igualmente caras.
5) a Concorrencia com os patricios é grande (vide BMW e Audi) nessa faixa de preço.
A regulagem do AC é de 0.5º em 0.5º ao contrario do que diz a reportagem
O motor e cambio são shows a parte.
O meu tem 211 CV.
Um show!!! Bonito (discreto), potente, seguro e um enorme prazer de dirigir.
Melhor que ele só BMW, AUDI, Mercedes, etc nas versões intermediárias. As versões básicas são piores.