Difícil é enxergar o óbvio

Aconteceu o que era totalmente previsível no aniversário de 100 anos da GMB: a agência de marketing, sob a aprovação da empresa, fez um evento triste e um vídeo baratinho feito com IA com erros históricos pavorosos (um Chevrolet 38 num evento de 1932 e um Opala 1969 na construção de Brasília em 1961), investindo muito mais na Fernanda Torres como locutora do que no conteúdo.

 

Os mais pragmáticos dizem que tudo bem. Que a GMB tem mais é que olhar pra frente mesmo, que não adianta gastar dinheiro com o passado.

 

Pois aqui nós achamos que ignorar a sua história é um erro estratégico brutal.

 

Vamos olhar mara o mercado futuro. É de se imaginar que, no mundo ocidental, a proporção de automóveis vendidos em 2050 será algo em torno de 1/3 elétricos, 1/3 híbridos e 1/3 a combustão (ICE, internal combustion engine). É claro que isso vai variar de país para país; na Noruega os elétricos já dominam; na América Latina ainda vai demorar.

 

Esta proporção é baseada em senso comum: os três sistemas têm seus prós e contras, e a evolução dos elétricos em autonomia será acompanhada por evoluções em híbridos e ICE. Salvo regulações malucas de governo, se o mercado se auto-ajustar será algo próximo disso.

 

O terço de mercado de carros elétricos será dominado pelos chineses. Eles têm o domínio da fabricação das baterias, da obtenção dos minerais, e da estruturação do carro elétrico. Sem dúvida que a GM e todas as outras marcas devem apresentar alternativas aqui, mesmo sendo outros carros chineses com um logotipo diferente – como aliás é o caso do carro elétrico que a GM apresentou ao final do evento.

 

A história é diferente nos dois terços restantes, especialmente no que tange os ICE. Aqui valerão as estratégias de marketing, vendas, produto, comunicação que já existem hoje. Aqui também estão as pessoas que gostam de carro e portanto as mais influenciadoras. Aqui, quem tem um legado, tradição, nomes fortes, vai sair na frente.

 

A Dodge já está aprendendo isso a duras penas com o fracasso do Charger elétrico e o posicionamento equivocado, de apoio total aos carros elétricos em detrimento do restante, que levou à saída do CEO.

 

Um carro com a história do Charger não se transpõe para um elétrico. Você pode criar uma alternativa, como o Mustang Mach-E (que a gente acha uma heresia, mas enfim), mas mantendo o Mustang tradicional em linha como vem ensinando a Ford.

 

A GM precisa capitalizar nesse legado enorme de sua distinta história para apresentar propostas de carros híbridos e a combustão que sejam atrativos como produto, como design, e cujos diferenciais estarão também na capitalização com bom gosto de sua rica história.

 

Essa história é impossível de ser replicada pelos chineses.


Essa vantagem competitiva não pode ser desperdiçada por um bando de funcionários e principalmente líderes desinteressados na empresa em que trabalham e sem preocupação com a sua sustentabilidade de longo prazo, preocupados somente em receber seus salários no final do mês.

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