Teste: Chevrolet Cruze LT 1.4 turbo

 


O fim da linha Cruze na GMB é mais um prego no caixão da morte dos sedãs médios. A predileção do consumidor brasileiro por SUVs, e o fato da Toyota ter lançado um Corolla espetacular em termos de design, equipamentos, tecnologia e motorização, significaram que o segmento fechou para os outros fabricantes. VW e Honda mantiveram versões caras e de nicho de Jetta (GLI) e Civic (híbrido).

Com o respeito devido à GMB que manteve o Cruze em linha enquanto pôde, é uma pena ver o final de uma linhagem de sedãs marcantes como Monza e Vectra, ainda que o Cruze tivesse muito pouco a ver com estes.

Com certeza o declínio nas vendas não tem a ver com a qualidade do produto. O Cruze, mesmo nesta versão de entrada LT, é um carro agradável, sólido e bem construído. O design, embora atual, é bastante genérico, o que sem dúvida não contribuiu para que o carro tivesse um maior reconhecimento por parte de seus compradores.

O design interno conversa com a linha atual da GM, porém com qualidade adicional, de certa forma seguindo o conceito VW; porém a GM foi muito mais feliz na fluidez do desenho, com curvas e linhas que se conversam e tornam o habitáculo um lugar agradável, especialmente no cinza claro do carro avaliado. Se os plásticos do console central decepcionam, o visor digital embutido no comando da temperatura é um charme à parte. Aliás é notável como o acionamento de botões e alavancas possui o peso correto.

O painel segue o estilo tradicional de mostradores em ponteiros para velocidade, giros do motor, nível de combustível e temperatura, o que gostamos, complementado por uma tela central monocromática e com poucas informações, o que poderia ser melhorado.

A posição de dirigir é facilmente encontrada com os ajustes de altura do banco e altura e profundidade do volante, que tem revestimento em couro e boa pega. No banco traseiro, embora o espaço para pernas seja razoável, a altura para a cabeça é limitada devido ao formato do teto. O porta-malas tem 440 litros e está na média do segmento.

 

Espaço interno talvez tenha sido um dos contribuidores para a extinção dos sedãs médios. Fato é que a geração mais recente desses sedãs (Corolla, Civic, Cruze, Jetta, Focus) não era expoente em espaço, exceção feita ao Sentra. Pelo contrário: em alguns como o Focus chegava a ser crítico. Algo que não acontece entre os sedãs compactos (Virtus, City e Versa são cavernosos) e nem mesmo com as gerações anteriores de Corolla e Civic. Enquanto isso, SUVs como Kicks e HR-V são enormes por dentro.

Voltando ao Cruze, chama a atenção nesta versão LT a ausência de alguns equipamentos que nós julgávamos já ser padrão na indústria. Não há chave presencial nem botão de partida – que é feita girando a chave. A tela multimídia é pequena. A iluminação externa não conta com LEDs. O cinto de segurança não possui regulagem de altura.

De resto, a lista de equipamentos inclui ar-condicionado digital automático, sensor de estacionamento, controlador de velocidade de cruzeiro e limitador de velocidade, alerta de pressão dos pneus, controles de tração e estabilidade, luz diurna de LEDs (DRL), faróis com regulagem de altura, assistente de partida em rampas, câmera de ré analógica (com resolução inferior ao Cruze LTZ e Premier), e central multimídia MyLink com tela de 7" e conexão com a Apple CarPlay e Android Auto, além de conexão Wi-Fi nativo e sistema para serviços de emergência e segurança OnStar.

O motor 1.4 turbo de 153 cv a 5.200 rpm e 24,5 m.kgf de torque a 2.000 rpm é um padrão da linha GM em alto nível de confiabilidade. A entrega de potência é linear, ajudada pelo câmbio automático epicíclico de 6 marchas que abusa do conversor de torque para ajudar na saídas e retomadas. O pênalti está em trocas mais demoradas e “emborrachadas” do que seria necessário. Fazem falta opções de trocas manuais que não sejam no pomo da alavanca.

O ajuste de suspensão do Cruze é unânime nos elogios pelo seu conforto, sem comprometer a estabilidade. Para quem estava dirigindo um SUV antes, que era o nosso caso, pegar um sedã parece estar de volta em um kart. Isso mostra a maturidade da GM para trabalhar de maneira eficiente num arranjo barato, de McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira.

Quem estiver no mercado de usados em busca de um sedã médio será bem atendido pelo Cruze nos requisitos básicos e mais importantes. Falta um pouco de capricho no design e no pacote de equipamentos, mas precisamos lembrar que esta é uma versão LT. Um Cruze em bom estado e bom preço é sem dúvida uma opção válida diante de um Civic ou Corolla mais caros e em pior estado.

 

Estilo 7 – Nada contra, a não ser o fato de ser bem genérico.

Imagem – Uma certa esportividade.

Acabamento 8 – Muito bom mesmo nessa versão de entrada, ajudado pelo belo tom de cinza interno.

Posição de dirigir 9 – Ajustes manuais do banco e do volante são suficientes. Sempre apreciamos nos GM a boa distância para os pedais, no Cruze não é diferente.

Instrumentos 6 – O que reduz a nota é a tela monocromática e a escassez de informações adicionais.

Itens de conveniência 7 – Cobre o básico, mas fomos negativamente surpreendidos com a ausência de alguns itens que julgávamos normalizados para a categoria.

Espaço interno 6 – Correto para o porte. Atrás é crítico em altura.

Porta-malas 7 – Poderia ser maior, mas não faz feio.

Motor 6 – Motor comprovado e com bons números de potência, torque e economia. Só não tem graça, como todo motor downsizing.

Desempenho 7 – Uma vez exigido, é um carro esperto.

Câmbio 7 – Faltam opções de troca manual. As trocas automáticas poderiam ser mais precisas.

Freios 8 – Atende a contento, com disco nas 4 rodas.

Suspensão 8 – Conceito simples porém com excelente calibragem, melhor que a de alguns multilink por aí.

Estabilidade 8 – Exibe reações controladas e está bem à frente de qualquer SUV.

Segurança passiva 7 – Seis airbags, ABS, mas o Cruze não pegou os auxílios a condução que se tornaram norma hoje. E que não substituem um motorista atento.

Custo-benefício 9 – Difícil pois hoje só se encontra usado. Porém tem bons argumentos para convencer futuros donos de sedãs em unidades de boa conservação e bom preço.

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