Teste: Audi Q3 1.4 TSFI Black Edition





Não foi planejado, porém imediatamente quando sentamos no banco do motorista desse Q3 pensamos que seria uma excelente continuação do teste do Nissan Kicks.

Ficou claro, ao conduzirmos o Nissan, que tanto ele quanto seus concorrentes no segmento dos SUVs compactos são inferiores aos carros da mesma faixa de preço – em equipamentos, em desempenho, em consumo de combustível, em acabamento, enfim. Se fôssemos imaginar um SUV compacto que fosse realmente competitivo no segmento, como ele seria?

Um Q3.

O SUV de entrada da Audi seria um SUV compacto ideal para a faixa dos 100 mil, aí sim batendo de frente com os automóveis de outros segmentos, oferecendo um pacote muito bom de desempenho, acabamento e equipamentos.

Só que não. O Q3 custa 150 mil e, nessa versão Black Edition, chega a 185 mil reais. O que pelo menos ajuda a termos uma ideia de conta: Um SUV equivalente a um hatch ou sedã é 50% mais caro; portanto, parabéns, você comprou um SUV e jogou dinheiro fora ao não pegar o hatch ou sedã equivalente por bem menos.

Vamos então comparar o Q3 com o Golf 1.4 TSI Elegance.

Desempenho: ambos têm o mesmo powertrain. O desempenho no Golf é melhor pelo menor peso.

Acabamento: equivalente. Ambos são muito bem feitos, usam LEDs para iluminação interna e os materiais internos são muito agradáveis ao tato.
Espaço interno: maior no Golf, especialmente no banco traseiro. O porta-malas do Q3 dá o troco: são 460 litros contra 313 no VW.

Equipamentos: equivalentes se considerarmos o Q3 de entrada; o Black Edition traz alguns detalhes a mais, porém é bem mais caro.

Capacidade de enfrentar asfalto ruim: equivalente. Nunca raspamos a frente de um Golf, e nunca sentimos que ele fosse incapaz de circular pelo péssimo asfalto brasileiro. O Q3 pode dar uma sensação de maior robustez, que não necessariamente se confirma na prática.

E o Q3 é vendido na faixa de R$ 140 mil, ao passo que o Golf com o pacote Elegance pode ser configurado no site da VW por R$ 116 mil. E nem vamos comentar os descontos que a rede VW tem praticado. Descontada a grife Audi, não conseguimos entender o que leva o sujeito a comprar um SUV e pagar mais caro do que um excelente hatch equivalente em tudo menos porta-malas. E ainda tem a Golf Variant.

A situação é ainda pior entre os SUVs das marcas generalistas, pois são carros que deixam a desejar em aspectos importantes como desempenho, epaço interno, acabamento.

Agora, se o Q3 custasse na faixa dos R$ 100 mil reais – poderia ser vendido até com a omissão de alguns equipamentos – aí sim teríamos o primeiro SUV compacto competitivo de bom custo-benefício do Brasil. Porque, descontado o preço, o Q3 é muito interessante.

O design se beneficia da filosofia alemã de linhas discretas e duradouras. Já está em fim de vida, e olha que foi um ciclo de vida longo, e mesmo assim permanece atual. O interior sofre um pouco mais, pois o crescente aumento do tamanho das telas tem datado os painéis com mais velocidade. Não que pareça antigo, mas definitivamente também não parece moderno.

A posição de dirigir é excelente, e as amplas regulagens do banco (elétricas) e do volante facilitam a acomodação. Atrás nem tanto, sendo o espaço similar ao de um SUV compacto generalista como um Kicks ou HR-V, um tanto menor até.

A ergonomia é brilhante, como sói nos carros alemães, e o acabamento segue o padrão Audi de excelência: encaixes perfeitos, plásticos emborrachados, tudo que se encosta é agradável. É de se imaginar como a Audi consegue fazer o acabamento de um A5 ainda melhor.


A lista de equipamentos inclui ar-condicionado automático de duas zonas, bancos de couro, sensor de luz e chuva, volante multifuncional com aletas e base aplanada revestido de couro, sistema Audi drive select, controle de cruzeiro, parking assist com câmera de ré, assistente de partida em rampas, Audi Music Interface e Bluetooth. Pelo fato de ser da série especial Black Edition, adicionam-se detalhes do acabamento interno em alumínio, computador de bordo colorido, teto solar panorâmico, abertura e fechamento elétrico da tampa do porta-malas, teto interior na cor preta e sistema de som Bose. Embora seja um bom pacote, fica devendo algo acima da média, como controle de cruzeiro adaptativo ou sensor de ponto cego.

A mecânica é a Audi “de entrada”, ou seja, o conhecido propulsor 1.4 turbo com 150 cv a 5.000 rpm e 25,5 m.kgf a 1.500 rpm, pareado com a caixa automática DSG de dupla embreagem de 6 marchas. O resultado é um desempenho satisfatório, que atende plenamente na cidade e na estrada, porém sem ser excepcional. A programação do DSG nos mareceu menos “arisca” e com mais deslizamento de embreagem, o que faz o Q3 menos desagradável na cidade, amenizando a sensação de “falta de motor” quando o câmbio acopla segunda a 3 km/h e deixa a rotação a 900 pm. A condução é muito silenciosa e agradável, refinada, e nota-se diferença com relação aos carros de marcas generalistas.

A suspensão é McPherson na dianteira e multilink na traseira, com calibração durinha típica Audi. Torna o Q3 gostoso de andar rápido, embora o centro de gravidade mais alto se faça notar. No asfalto maltratado a transmissão de impactos é maior que gostaríamos, porém sem transformar o carro em desconfortável.

Tudo somado, o Q3 revela-se um típico Audi em todos os aspectos: bonito, bem-acabado, gostoso de dirigir, e consideravelmente mais caro do que um modelo equivalente de uma marca generalista. Mais equipamentos e mais potência seriam bem-vindos; ou então uma redução no preço para maior competitividade. Como está, mesmo no final de vida útil, é uma compra válida. Mas nós olharíamos com carinho para o Tiguan.


Estilo 8 – Um tanto cansado pelos anos na luta, mas ainda bastante agradável.

Imagem – É mais feminino que masculino.

Acabamento 10 – Os interiores da Audi costumam ser aula de acabamento e o Q3 não é exceção.

Posição de dirigir 9 – Um tanto alta pela proposta de SUV, porém adequada. As regulagens de volante e banco permitem bom conforto.

Instrumentos 9 – Painel clássico, belo display central, bom computador de bordo.

Itens de conveniência 6 – Faltam equipamentos mais modernos, especialmente para justificar o preço da versão Black Edition.

Espaço interno 6 – Ótimo na frente, razoável atrás.

Porta-malas 6 – Porta-malas na média; ganha pontos pela abertura automática.

Motor 9 – Esse 1.4T habita Golf, Variant, Tiguan, A3, Q3 e em breve Polo GTS (tomara!). Já está conhecido, tem bom desempenho, mas o foco pe o downsizing: desempenho de 2.0.

Desempenho 8 – Bastante suficiente na cidade e na estrada. Nota-se alguma dificuldade em altas velocidades, normais para a potência entregue.

Câmbio 10 – Se é pra ter DSG, que seja o de seis marchas a óleo como esse. Também gostamos da programação mais suave.

Freios 10 – Boa sensação no pedal, muito eficazes.

Suspensão 7 – Como quase sempre, gostaríamos de mais conforto. Mas não é ruim.

Estabilidade 8 – Não pode ser jogado nas curvas com impunidade, pois o centro de gravidade é alto (ainda mais com teto panorâmico), porém o limite é elevado.

Segurança passiva 9 – Tem os seis air bags regulamentares e a construção alemã sólida.

Custo-benefício 5 – O Q3 regulamentar vai melhor. Mesmo com os mimos adicionais, fica difícil justificar os R$ 185 mil pedidos pela Audi, considerando Equinox e Tiguan 350 que são maiores, mais equipados e de maior desempenho. Pode-se dizer que é o preço de ter um Audi, mas para nós parece elevado demais.

Comentários

Anônimo disse…
Saudade das avaliações do site ! Parabéns pela análise do Q3, tenho o mesmo sentimento por quem compra SUV quando existem opções melhores e mais baratas.
peças para bmw disse…
infelizmente não pagamos pelo benefício e sim pela marca. Claro que Audi tem seu valor, mas existem ofertas melhores no mercado.

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