2007

A pedidos, queria fazer um levantamento de como foi 2007 em termos automobilísticos.

De uma maneira geral, foi um ano muito decepcionante. Sei que sou uma das poucas vozes falando assim, pois os números de crescimento estão aí, com a indústria batendo o recorde de produção e as cidades e estradas batendo recordes de congestionamentos. Eu não me ligo à quantidade, e sim qualidade. E nesse ponto ainda precisamos evoluir muito, muito mesmo.

Os lançamentos que tivemos foram, em sua maioria, face lifts de modelos já existentes, sem no entanto nenhuma melhora significativa em termos de acabamentos, opcionais, porte, motorização. Golf 4,5, Polo, Fox, Bora, Ka, Fiesta, EcoSport, Palio, Siena. Muito melhor que qualquer uma dessas modificações foi, por exemplo, a Peugeot passar a oferecer teto solar no 206, aí sim agregando ao carro e ao prazer de dirigir.

Dentre os lançamentos, destaque sem dúvida alguma para o Punto. Um carro bonito, vendido em toda a Europa, recheado de equipamentos e opcionais, com um preço extremamente competitivo. É a prova que podemos ter aqui os mesmos carros que fazem a cabeça dos europeus, como a Honda prova há tempos com Civic e Fit. Falta ao Punto nacional uma motorização que revele seu caráter italiano, um motor mais suave, girador, de ronco bonito. Talvez o 1.9 planejado para o Linea em 2008 lhe caia como uma luva.

Destaco também o lançamento do Logan, outro projeto global, desenvolvido na França, e adaptado ao Brasil sem muitas dificuldades. Não gosto do carro, não é novidade para ninguém, mas isso se deve ao fato de não ser um carro para quem gosta de carros. Entendo que muota gente vê o carro apenas como meio de transporte entre A e B e, para esse público, o Logan é perfeito.

Outro fator positivo de 2007 foi a ampliação da garantia de 3 anos, agora disponível em diversos modelos. Isso deve aumentar, pois garantia é argumento de vendas sim. Que o digam Kia e Hyundai, que não venderiam nada sem isso.

Foi um ano, no entanto, de muitas, e graves, decepções. A maior, sem dúvida, o Golf 4,5. O Golf é um carro excelente, de ótimo acabamento, gostoso de dirigir. Merecia um substituto à altura (o Golf MkV europeu) ou então uma morte digna: com mais opcionais, motores mais potentes (alô VW, qual a dificuldade de fazer um 2.0 flex?), mais opcionais e um preço a altura de um projeto já consolidado, como a Ford fez com o Focus.

Outra decepção é o Vectra Expression. Não pelo carro em si, mas pelo que a GM fez com a linha Vectra, tirando completamente seu status de premium. Agora a GM tem dois carros de alto lucro, Vectras Elegance e Elite, sem vender nada, e um pelado comendo as vendas de todo mundo.

No geral, um ano muito ruim para a GM. Fechou em terceiro nas vendas (ou seja, em último), sem um produto decente. O ponto alto foi o lançamento do 1.4 na linha Corsa, que criou o que talvez seja o produto mais interessante do portfólio. Outro ponto bom foi a queda gradativa no preço do Astra, hoje disponível a 46 mil reais (ainda caro; deveria sair a 42, no máximo). De resto, só tristeza. O Celta melhorou em acabamento mas continua pecando em coisas básicas, como volante torto e câmbio curto. A Meriva e a Zafira estão cansadas. O Vectra sumiu diante dos japoneses. 2008 eu prevejo um ano ainda pior para a GM, pois não existem exemplos vindos de fora que possam agregar ao portfólio (a exceção é o Malibu americano, para concorrer com o Fusion). O fato do nosso Vectra ser o Astra europeu matou as chances de termos o Vectra europeu aqui, e em breve deveremos ter o Corsa europeu batizado como Astra. Uma involução em todos os sentidos. A continuar nesse caminho, a GM deveria retorar-se do país e parar de oferecer esse desserviço à frota nacional.

A Fiat aposta 2008 no Linea, o sedã do Punto. É do tamanho do Civic, embora sem as qualidades mecânicas deste. Pode ser um sucesso, se precificado logo abaixo dos japoneses. Se vier bater de frente com Corolla e Civic, é melhor nem lançar. O Palio MkIV é interessante, e tem vendido bem. O Siena está ridiculamente caro, e assim deve ser com a Palio Weekend. O Stilo já não vende nada, e deve receber pequenas mudanças neste ano até a chegada do Brava europeu. Vai continuar sem vender nada. Mas os carros que carregam a Fiat nas costas – Mille, Palio Fire, Siena Fire – vão bem obrigado, com economia, confiabilidade e, no caso dos dois últimos, design atual. Deve ser a campeã de vendas em 2008.

A VW aparentemente saiu da letargia e pronete abalar as estruturas em 2008. Se tudo o que está prometido acontecer mesmo, tomara que assumam a liderança de vendas. Vejamos: o Gol MkV (ou Gol NF, de Neue Familie, nova família em alemão) sairá em breve, muito melhor que o atual (que segue na versão básica). O novo Gol será feito na plataforma do Polo, o que significa motor transversal, ótima dirigibilidade e amplo espaço interno. A VW promete ainda melhorar o acabamento interno.

Isso significa que o Fox terá de ser melhorado também. Ele perde o painel ridículo (assim como o Gol) e ganha melhores plásticos e revestimentos. No entanto, isso não significa o fim do Polo, que seguirá sem mudanças. Portanto, Gol e Fox não poderão sofrer grandes reajustes de valor. O que pode acontecer em 2009 é termos um Polo novo, similar ao europeu, na faixa de 50 mil reais e o Golf MkVI, igual ao europeu que será lançado este ano, pelos 60 mil. Sim, preços altos, mas uma linha coesa, interessante e similar às ofertas globais da montadora. Some a isso a oferta do motor 1.4 Flex, e podemos ter Gol 1.0 e 1.4, Fox 1.4 e 1.6 apenas no Cross e na Space, Polo 1.6. Um mix muito interessante. Some a isso ainda o futuro Voyage, um mini-Polo sedã para derrubar o Prisma e o Siena.

Se a VW cumprir o que prometer, será um ano matador. Meu medo é a VW pisar na bola como aconteceu com Gol GIV e Fox, por exemplo, e manter o acabamento de plástico, ou colocar um câmbio excessivamente curto, ou endurecer demais a suspensão. Vamos torcer para que isso não aconteça.

É a Ford, no entanto, que vai lançar o melhor carro de 2008: o novo Focus, que vai unir a capacidade dinâmica do carro atual a um acabamento digno de classe superior – como já é no 307. O design exterior, infelizmente, não é o mais bonito do mundo, mas o Focus é um carro que conquista quem gosta de estar dentro dele, e não fora. Virá mais caro, pois o Focus atual segue em produção apenas com o 1.6 flex. A dúvida fica se o excelente Duratec 2.0 ganhará versão flexível pois esta é uma demanda do mercado que deve ser atendida – carros só gasolina ficam bem para trás na escolha do consumidor, ao menos onde o álcool é vantajoso em boa parte do ano. Um Focus Mk2 com o Duratec flex entre 55-65 mil tem tudo para dominar o mercado e levantar ainda mais o nome da Ford.

Será também o ano de vermos se o Ka novo cai no gosto do público – aparentemente sim, pois o carrinho já tem fila e com certeza ganhará versão 4 portas (se isso não acontecer será uma bobagem sem tamanho). O Fiesta precisa evoluir por dentro e talvez ganhar uma versão 1.4 que elimine as 1.0 e o diferencie do Ka, mas isto é especulação. Será um ano de recuperação e crescimento para a Ford, mas ela que abra os olhos para o acabamento ainda tosco de Fiesta e EcoSport. E tragam logo o Fusion V6.

A Renault venderá muitos Logan e poucos Sandero – pois carro barato e moderno não existe fora do segmento de entrada. O Clio precisa parar de ser negligenciado, embora não existam sinais que isso acontecerá em 2008. Teremos a nova Scénic européia, que no entanto parece vir muito mais cara que a atual e por isso com poucas chances de decolar. Será um ano de crescimento para a Renault, embora ainda muito aquém do que poderia ser.

A Peugeot segue sendo a mais agressiva das montadoras, pela rapidez com que incorpora as mudanças na sua linha européia. O 308 deve suceder o 307 pouco depois de seu lançamento na França, e isso significará o primeiro carro da nova geração de hatches médios europeus a desembarcar por aqui. Será o único concorrente à altura do Focus Mk2, caso a Ford traga mesmo esta nova geração, e do C4 hatch. O 206 foi bem sucedido na Europa pelo 207, que no entanto chegará aqui não como um novo carro, mas como um face lift sobre o atual 206 (que segue em produção). Será um competidor do Polo e do Punto, dois concorrentes de peso antenados com seus equivalentes europeus. Fará algum sucesso, mas será sempre criticado por ter sob uma cara bonita a mesma mecânica do 206 atual.

O lançamento da Citroën para 2008 será o C4 hatch, que tentará retomar o bom nome conquistado pelo Xsara no segmento há bons 6 anos. É um carro de design convencional, atraente, com mecânica e suspensão também convencionais – algo bastante chato em se tratando de um Citroën. Será seguramente um ótimo carro, embora de poucas vendas, já que compartilha o mesmo tipo de comprador que o 308 – homens e mulheres empreendedores, sem medo de mudar de marca, que trocam valor de revenda e facilidade de manutenção por design e prazer ao dirigir.

A Honda apresentará o Fit de cara nova, que tenta tornar menos feio um carro extremamente bem executado. Também deve sanar o maior problema do Fit, a falta de fôlego na versão 1.4, com um repotenciamento tanto dos 1.4 quanto do 1.5. O outro problema grave, a suspensão super dura, deve continuar como está. Tanto o Fit como o Civic continuarão a ser caros pelo que oferecem, mas vão continuar a vender bem. Só o Civic pode perder compradores para o...

Novo Corolla. Este talvez seja O lançamento de 2008. Enquanto o Civic mudou completamente e se tornou um carro arrojado, o Corolla evoluiu seu conservadorismo com um desenho externo pouco empolgante, mas melhorou sensivelmente seu ponto mais fraco, o acabamento. Deve vir com um bom argumento para derrubar o Civic – um porta-malas de verdade. Será o centro das atenções de quem compra esses sedãs e deve ter ágio no começo das vendas. Também servirá para enterrar de vez o Mégane e o Vectra. No entanto, a disputa entre Corolla e Civic deve seguir acirrada, e infelizmente sem grandes reduções de preço ou aumento de equipamentos por ambas as partes. Basta ver como a Toyota assistiu impávida sua grande queda de vendas neste ano (menos 0,7% enquanto o mercado crsceu dois dígitos em relação a 2006) para se mensurar o conservadorismo japonês.

No todo, tende a ser um ano bem melhor em termos de lançamentos do que 2007, embora com carros ainda muito caros. Pelo menos poderemos voltar a dirigir o que de melhor a indústria automobilística tem a oferecer em termos mundiais.

Comentários

Anônimo disse…
Gostei muito desse post e seu blog é muito interessante, vou passar por aqui sempre =) Depois dá uma passada lá no meu site, que é sobre o CresceNet, espero que goste. O endereço dele é http://www.provedorcrescenet.com . Um abraço.
Anônimo disse…
grande texto......mas como sempre um pouquinho de ma vontade com a g.m o motor e de monza mas o carros são confortáveis
Anônimo disse…
Parabéns pela matéria. Realmente as observações foram muito coerentes. O que não entendo é porque a Toyota não resolveu entrar na briga dos hatches para apimentar o mercado.
Um abraço

Alexandre Ferreira (Floripa)

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