De ladinho

Carros têm perfil? Teoricamente, sim. Um carro luxuoso, com amplo porta-malas e espaço para cinco (ou mais) passageiros, é imediatamente identificado com um pai de família, pessoa bem sucedida na vida, com uma certa idade. As Mercedes foram longamente associadas com pessoas mais velhas justamente por esse perfil; na época em que eram (ainda mais) inacessíveis, apenas senhores tinham interesse (ou posses) em comprá-las. O mesmo se diz da Buick e da Lincoln nos EUA; com o perdão dos mais experientes, são chamados de “carros de velho”.

Muito se especula a respeito de um carro “all-arounder”, um que agrade a todos os perfis. Não dá, gente. Para ficar nos estereótipos, pais de família preferem sedãs, mães ficam com as minivans e jipes compactos, jovens preferem pequenos e médios esportivos, enquanto as meninas preferem um compacto premium.

Enquanto os mercados maiores oferecem modelos para todos os gostos, aqui no Brasil alguns modelos ficam perenemente associados a um público que, aos olhos da maioria, representa seus maiores compradores. Difícil dar exemplo melhor que o Peugeot 206 e seu estigma de carro feminino. E enquanto o carro é, de fato, forte preferência entre as jovens moçoilas (embora, numa pesquisa que realizei recentemente sem nenhum embasamento científico, o EcoSport possa tomar esse lugar), não deixa de ser uma ótima opção no segmento: bonito, bem acabado, gostoso de dirigir.

Para os que acreditam no status transmitido pelas suas posses, e o carro é uma das mais visíveis, a adequação do automóvel ao perfil do motorista pode tornar-se complicada. É nisso que a VW aposta, por exemplo, com o Polo GTI a 100 mil reais. O objetivo é atrair jovens compradores que gostam de carros compactos e potentes, numa lacuna deixada pelo saudoso A3 nacional. Na ponta contrária, os sedãs pequenos passam longe da preferência dos jovens, ao contrário das peruas compactas. A GM tem tentado se safar desse estigma com o Prisma, mas é difícil.

Eu preciso confessar aqui que sempre achei o Uno um carro de “macho”. Talvez por ser menos equipado, ou por ter a fama de carro robusto e espaçoso, duas qualidades dificilmente procuradas por mulheres nos seus automóveis. Pois bem: de tanto ver garotas pilotando seus Milles no trânsito, perdi essa noção. Hoje para mim o Uno é um carro à prova de perfis, como também é o Palio. Para quem se preocupa com a imagem transmitida pelo carro que possui, vai aqui uma relação do que penso de alguns modelos:

Volkswagen:
Gol: masculino, todas as idades
Fox: neutro, leve tendência feminina
SpaceFox: jovem, ambos os gêneros
Polo: neutro
Golf: jovem, ambos os gêneros

Fiat:
Uno e Palio: neutros
Siena: masculino, mais velho
Palio Weekend: neutro
Stilo: masculino, todas as idades

GM:
Celta: jovem, leve tendência masculina
Classic: táxi
Corsa: jovem e masculino
Astra: masculino, todas as idades
Vectra: masculino, tendência a mais velhos

Ford:
Ka: jovem, feminino
Fiesta: jovem, leve tendência feminina
EcoSport: jovem, feminino
Focus: masculino, todas as idades

Renault Clio: jovem, leve tendência feminina
Peugeot 206: jovem, feminino
Citroën C3: jovem, leve tendência feminina
Honda Civic: masculino, tendência a mais velhos
Honda Fit: feminino, mais velho
Toyota Corolla: tendência masculina e a mais velhos

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